Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 14 de julho de 2012

Tristeza vazia


     Prometi a mim mesmo e a alguns amigos, que não me envolveria na campanha eleitoral da minha pequena Rio de Contas, em 2012, cansado das mesmices e das mesquinharias locais, mesmo que me pese o enorme amor que aprendi a nutrir por aquela terra, eu que não nasci lá, mas em outro Rio, o de Janeiro, já lá se vão mais de 61 anos.
     Mas a entrevista publicada no blog Notícias de Rio de Contas, concedida pelo atual prefeito a um jornal chamado "O ECO", jornal que nunca tinha ouvido falar até então, e que parece destinado apenas a fazer eco às vozes dos poderosos de plantão, me entristeceu pelo imenso vazio que contém.
     É o vazio de quem não tem o que dizer e tenta inventar o impossível para justificar quatro anos de abandono e avareza em relação à sua terra.
     Rio de Contas tem três vocações explícitas: a pequena agricultura, a cultura e o turismo. Eu que fui presidente e fundador da Associação dos Pequenos Produtores Rurais, até que a doença de minha mãe me levasse de volta a Brasília para cuidar dela no seu final, pude conhecer de perto o abandono em que vivem e continuaram vivendo os pequenos agricultores do município, neste quadriênio que se finda. Suas necessidades são simples, como é simples sua própria vida. Precisam de assistência técnica para que aprendam novos e melhores caminhos que aumentem e melhorem sua produção.
     A Secretaria de Agricultura do Município, no entanto, com seus dois agrônomos, andava sempre tão envolvida na política que os mantinha sempre em reuniões, nunca tendo tempo para visitar e orientar os agricultores. Cuidavam de distribuir mudas como se isso fosse resolver os problemas dos que vivem da terra, desconhecendo as pragas e doenças que assolam os cafezais e outros cultivos, como os de morango, e se recusando a ajudar os que não podem pagar pelo conhecimento de um agrônomo.
     A EBDA, empresa criada pelo governo estadual para realizar esta atividade, tem um escritório na cidade mas que também se dedica exclusivamente à política , servindo apenas para promover quem está no cargo, feitas as alianças necessárias com o poder municipal.
     O Prefeito diz na sua entrevista que promoveu uma "revolução" na agricultura. Uma tristeza. Não fez nada por ninguém a não ser para beneficiar alguns correligionários que ganharam "projetos experimentais", que nunca passam disso. Não há escala nas ações municipais. Que o diga quem tem que vender sua laranja a R$10,00 para os atravessadores que infestam nossas estradas vicinais, muitas vezes preferindo dá-las aos porcos.
     Na área da cultura as declarações do nosso alcaide beiram o ridículo. Deixou um néscio como titular da pasta durante os quatro anos, como que para fustigar os artistas da terra, e apresenta como conquistas da sua gestão as obras do IPHAN, conseguidas ao tempo em que fui chefe do escritório local, vale dizer, a reforma das duas igrejas históricas e a assinatura do PAC das cidades históricas, que tive que ir pessoalmente à sede do governo para convencê-lo a participar do ato. Acabou com o São João da cidade, transferindo-o para sua base eleitoral, no distrito de Marcolino Moura e fez o mesmo com o carnaval tradicional, famoso na Bahia, entregando sua organização ao seu assessor mais odioso, o notório perseguidor de opositores, que o transformou num lucrativo negócio para si mesmo, feito de baixarias, drogas e violência.
     Quanto ao turismo, basta passear pela cidade em dias normais para ver o abandono das pousadas e hotéis. Pergunte-se a qualquer dono de pousada o que vem acontecendo com o fluxo de turistas, que se antes já era intermitente, agora há dias em que o vazio da cidade dá medo. Outro dia estava tão deserta que um amigo de Salvador a quem levei para conhecê-la me perguntou se não havia risco de sermos assaltados, tal o ermo em que se encontrava.
     O Secretário de Turismo, um jovem simpático e completamente desconhecedor do assunto, permaneceu no cargo todo este tempo, tocando seus negócios particulares, sem tomar nenhuma iniciativa. Os poucos dias festivos se resumem às tradicionais festas religiosas da cidade, cuja origem remonta há muito tempo atrás, e não tem nada a ver com esta administração.
     Tudo muito triste. Um imenso vazio que me dói profundamente, principalmente por ter sido este prefeito uma promessa de renovação, que desembocou no mais puro cinismo, e que ainda tenta nos convencer com seus olhinhos infantis de que é a mais cândida das almas.

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