Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 8 de dezembro de 2012

O Paiz
 
Brasil potência: pra que?
 
 
     Semana passada, um consultor indiano de uma agência internacional, dessas que fica dando notas para os bancos e para os países e lucrando em cima disso, analisando nosso fraco crescimento em 2012, disse que o Brasil não tinha capacidade, nem vontade de assumir uma posição de liderança no cenário internacional.
     Ressaltou inclusive que o termo Brics, não fazia sentido porque as cinco economias (Brasil Rússia, India, China e África do Sul) eram muito diferentes e nenhuma delas teria condições de assumir o papel das principais economias atuais do mundo, ou seja, Estados Unidos, Europa e Japão.
     Este tipo de análise parte do princípio que todos os países do mundo querem ser hegemônicos, ter uma posição econômica e militar que lhes permita dominar os outros. É uma visão que coloca os países como se fossem competidores no que eles chamam de tabuleiro internacional, como um jogo, onde é preciso se esforçar para ganhar dos outros.
     Essa mentalidade é uma resultante histórica das políticas dos antigos impérios coloniais (a agência é inglesa), que ainda se reflete na política de muitos países modernos, principalmente nos Estados Unidos. O analista, é claro, não entende que um país não tenha essas ambições, mas deseje apenas melhorar a vida de seu povo, viver bem e em paz.
     Para ele isso é falta de liderança, ou pelo menos, falta de vontade de liderar.
     No entanto, os povos que vivem melhor no nosso planeta são justamente aqueles que não se importam com isso. A Noruega, se não estou enganado, é o maior PIB per capita do mundo. Seus habitantes tem uma renda altíssima e vivem muito bem. Nem quiseram fazer parte da União Européia com medo de estragar seu bem estar, se misturando com outros povos mais atrasados economica ou politicamente, como esses que ainda são nostálgicos de seus antigos impérios (como os ingleses).
     A Suíça é outro exemplo. Vivem bem sem se meter em guerras e confusões e não querem liderar ninguém. Estão na deles.
     Então porque o Brasil teria que ter essa ambição de liderar o mundo, de tomar o lugar dos americanos? Não é muito melhor a gente continuar construindo nosso futuro tranquilamente?
     Pessoalmente, acho uma bobagem essa insistência do Brasil em querer fazer parte do Conselho de Segurança da ONU. Pra que, se nem somos uma potência militar? Temos tantos problemas ainda pra resolver na educação e na saúde, tanta pobreza, tanto atraso na infraestrutura, para que nos metermos a policiar os outros, nos metendo em confusões de povos que só sabem resolver as coisas através de guerras e violência?
     Acho que estamos vivendo um momento de profunda transformação no Brasil. Os investimentos em portos, aeroportos, ferrovias, rodovias, mobilidade urbana, só agora começam a sair do papel.
     Nos próximos anos vamos colher os frutos do pré-sal e se o projeto do governo de investir todo esse recurso em educação conseguir vencer a mentalidade retrógrada de senadores e deputados, vamos viver uma revolução do conhecimento no nosso país.
     O aumento continuado do salário mínimo, a redução de impostos (renúncia fiscal) dos juros, da energia elétrica, as políticas de incentivo à indústria e à agricultura familiar, fazem parte de um conjunto de medidas estruturais de longo alcance, cujo objetivo é substituir a exportação pelo crescimento do mercado interno, num mundo deprimido pelas crises das grandes economias.
     Isso é muito mais importante do que obter um crescimento econômico imediato, sem uma base sustentável. Vamos crescer dentro das nossas possibilidades, nos planejando, sem nos preocupar em liderar nada, estimulando a inovação e a integração dos países da América do Sul, formando um grande mercado comum e retirando, isso sim, a influência maléfica desses países hegemonistas da nossa região, o que vai beneficiar a todos os sul americanos, deixando essas ambições imperiais para os que gostam de se iludir, achando que são superiores.
     A mudança da matriz energética, que está apenas começando no Brasil, também é importantíssima. As novas concessões para instalação de parque geradores de energia eólica, devem elevar a participação deste tipo de energia limpa dos atuais 1% para 15% nos próximos 20 anos. Com isso não precisaremos fazer mais hidrelétricas, tão caras e de impacto ambiental tão grande. E a energia solar só agora vai chegando ao ponto de exploração comercial em grande escala. Ventos, sol e biomassa, são o que o Brasil mais possui.
     A inclusão dos negros e índios, através da política de cotas, já começa a dar resultados e em breve vamos superar a defasagem entre as etnias que compõem o país, enterrando definitivamente a herança maldita do modelo escravista colonial. Também a ascensão das mulheres aos cargos de comando, em igualdade com os homens, vai enterrando nosso passado machista e preconceituoso, construindo as bases para um futuro realmente democrático e promissor.
     Estamos mudando e por isso os resultados vão custar um pouco a aparecer, mas estamos no caminho certo. Ser potência militar não nos interessa, a não ser para obter a capacidade necessária para a defesa da nação e das nossas riquezas, e acho correto apostarmos na integração com nossos vizinhos, ao invés de pensarmos em competição.
     O futuro do mundo está na cooperação e não na competição. Querer liderar e dominar é um sintoma de atraso político, que só pode preocupar este tipo de gente que vive de especular com a riqueza alheia.
     A paz é mais do que uma situação provisória, é um patrimônio conquistado pelo Brasil através dos séculos e que deve ser preservado para as futuras gerações, junto com a justiça social e o progresso material em equilíbrio com a natureza.
    
    
     

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