Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 14 de outubro de 2012

Rapidinhas
 
Solidariedade e egoísmo
 
 
     Duas propagandas me chamaram a atenção na televisão: uma de um presunto, em que um sujeito vai comer um sanduíche e quando percebe que sua mulher também quer, vai se virando de costas para impedir que ela coma. A idéia é que ele não compartilhe seu sanduíche com sua própria companheira.
     Em outra, semelhante, da cadeia de lanchonetes Bob's, um adolescente vê uma moça se aproximando, fica todo animado com a possibilidade do encontro, mas depois pensa na possibilidade dela querer um pouco do milk shake que ele está tomando. Então arranca a camisa numa atitude agressiva para espantar a jovem.
     As duas passam a idéia de não compartilhar alimentos com pessoas próximas. Aliás a do milk shake, ainda posta um endereço intitulado incompartilhável.com.
     Tudo muito triste.
     Propaganda explícita de atitudes egoístas como se fossem engraçadas, ou espertas.
     Esses estímulos, que o capitalismo lança a todo instante para a população, são responsáveis pelo crescimento da violência e da intolerância entre as pessoas.
      Que diferença, na minha pequena Rio de Contas. Outro dia fui comer um pastel na lanchonete de Nem, e um senhor ao meu lado se sentiu constrangido por tomar uma Coca-Cola sozinho.
     _O senhor está servido? me perguntou ele, quando eu já ia pagar minha conta.
     Agradeci feliz, certo de que o mundo ainda tinha jeito.
 

Ruas vazias
 
     E por falar em propaganda, já perceberam como os anúncios de automóveis apresentam sempre um modelo novo andando por ruas vazias?
     Que delícia dirigir um desses modelos por uma São Paulo sem ninguém nas ruas!
     Acho que eles devem filmar essas propagandas as cinco horas da manhã, porque a realidade é que enfrentar centenas de quilômetros de engarrafamentos não é agradável em automóvel nenhum. Muito melhor andar de metrô, que apesar de cheio, pelo menos anda.
 
 Pobre Democracia
 
 
     Democracia ainda é um sonho distante nas cidades do interior brasileiro.
     Após os resultados as agressões contra os perdedores se intensificam. Soltam-se foguetes de madrugada na porta de pessoas que votaram no candidato perdedor, carros de som se vangloriam da vitória e convidam os que votaram no eleito para comemorar, como se ele (ou ela) fosse governar apenas para os seus eleitores e tem gente comemorando com um até 2018! Que eu saiba o mandato de prefeitos é de quatro anos, portanto o certo seria até 2016! Será que não sabem fazer contas?
     Mas a julgar pela disposição do TSE de limpar a pauta nos processos contra candidatos, muitos eleitos prometem não chegarem até lá.
     Pior do que isso, pessoas civilizadas e educadas, continuam postando provocações na internet, gente que antes se cumprimentava educadamente, se olha como se fossem inimigos, parentes deixam de se falar, enfim, o que devia ser apenas uma escolha de governantes vira uma guerra sem fim, que atormenta os perdedores de hoje e atemoriza os vencedores, por medo de serem também hostilizados amanhã, se um dia vierem a perder, o que é muito normal numa democracia onde há alternância no poder.
     O nome disso é falta de formação democrática.
     Em lugares civilizados os candidatos se cumprimentam após as eleições, desejam bom governo aos vencedores e a vida segue normal.    
     De que adiantam as lições sobre democracia na escola, ou as propagandas do TSE dizendo que a eleição é uma escolha democrática de governantes, se grande parte da população age desta forma? Que exemplo é dado aos futuros cidadãos, às crianças brasileiras por adultos que tomam essas atitudes?
     Afinal não fingimos (pelo menos) acreditar que a liberdade, a responsabilidade e a tolerância são elementos fundamentais para construir uma verdadeira democracia?
     O exemplo começa em casa!
     A eleição acabou e pronto. Parabéns aos vencedores, que façam alguma coisa pelo bem da sua cidade e vamos trabalhar minha gente.
 
    Poesia da Semana
 
Outubro

 
Trago a nova: eu mudo
lento, e é tudo
Sinto ser assim
por estações: aos turnos
 
Posso voltar
Ao ponto de partida
Mas luto
 
Sei que vem outubro
Flores, fruto de seiva
romperão no mundo
(Trabalho duro:
sugar de pedras,
rasgar os caules,
colher ar puro)
 
Lento e bruto
Eu mudo
Sei que vem
Outubro
 
Nei Duclós

4 comentários:

Nei Duclós disse...

Obrigado por postar meu poema. O crédito ficou meio sumido, em corpo seis bem no cantinho direito da página. Não dá para enxergar direito. Poderia estar como no poema, no mesmo corpo e centralizado.Abs.

Ricardo Stumpf disse...

OK Nei. Vou corrigir agora mesmo.
Obrigado pelo seu comentário.
Guardo seu livro desde 1975, quando o adquiri na sua mão em Porto Alegre.
Este poema até hoje me emociona.

Anônimo disse...

Ricardo,
a respeito dos foguetes, saiba que a turma que você acompanhava prometia saques em mercados, tiros pro alto agressões e até matar se necessário. Os foguetes não são nada não. Vc acompanhou o que estas pessoas que tiveram fogos em suas portas fizeram nas eleições, isso é refresco.

Ricardo Stumpf disse...

Prezado Anônimo

Não aprovo nada disto. Nem foguetes, nem saques, nem tiros.
Quero paz para minha cidade e democracia com respeito para todos os brasileiros, de todos os municípios.