Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sexta-feira, 17 de agosto de 2012


Rapidinhas
O Ideb e a educação no Brasil

     Os resultados do Ideb 2011, divulgados pelo MEC, provam o que todo mundo já sabe: que o sistema educacional brasileiro não funciona.
     As melhores escolas públicas continuam sendo as federais e as militares, enquanto as piores continuam sendo municipais.
     E não é por falta de financiamento, pois o governo federal aloca dinheiro até para reforma de prédios tanto nos sistemas estaduais quanto nos municipais. É por falta de interesse mesmo.
     A prova disto são as pequenas escolas de pequenos municípios que conseguiram ótimas pontuações. Escolas onde alguns (poucos) prefeitos interessados colocaram gente competente à frente das unidades de ensino, gente com criatividade suficiente para vencer o marasmo de professores e alunos desmotivados e transformar uma obrigação constitucional, em uma verdadeira prioridade.
     O erro está no sistema, que confunde descentralização com municipalização. Na esmagadora maioria dos municípios as escolas não gozam de autonomia nenhuma. São centralizados por prefeitos que fazem delas objeto de negociação política e temem que os alunos se conscientizem.
     Isso é muito antigo, vem desde a colônia portuguesa, continuando pelo império e entrando pela República. No meu livro Escola, Espaço e Discurso, consegui ter uma visão panorâmica sobre este assunto. A única política pública constante nos mais de 500 anos de história do Brasil tem sido a decisão inabalável das nossas elites, principalmente no interior, em vedar o acesso do povo à escola de qualidade.
     A solução para isso é federalizar todo o sistema, dando real autonomia às escolas e impedir que os prefeitos se imiscuam nos problemas educacionais dos municípios, que deveriam ser considerados como assunto de interesse nacional. Dizer que os indicadores estão melhorando lentamente é conversa fiada. O que precisamos é de melhorias rápidas, de uma revolução na educação.
     A lei de Diretrizes e bases já prevê esta solução, mas falta interesse em resolver o problema.
Viva Assange
     A histeria inglesa com a concessão de asilo diplomático, pelo governo do Equador, a Julian Assange, o australiano que criou o site Wikileaks, que divulgou informaçõs confidenciais dos Estados Unidos, mostrando ao mundo seus crimes de guerra, prova que o governo inglês continua sendo um cachorrinho (como dizem os ingleses) dos americanos.
     A alegação de que ele é um criminoso porque teria cometido um crime sexual na Suécia não convence ninguém. A acusação é a de que ele fez sexo não permitido com duas mulheres suecas.
     Não é estranho? Elas eram maiores e consentiram no ato sexual. Logo na Suécia, país conhecido pela liberdade sexual?´
     É claro que o governo conservador da Suécia vai extraditá-lo para os Estados Unidos onde Assange pode até ser condenado à morte.
     A ameaça dos ingleses de invadir a embaixada equatoriana para prender Assange, desrespeitando leis internacionais, prova que o assunto não está restrito a problemas sexuais, mas virou uma perseguição contra uma pessoa que escancarou verdades indigestas para os Estados Unidos e seus cúmplices, e que precisa ser calada a qualquer preço.


Noite

     Deixo para os leitores mais uma poesia de minha autoria, que achei nos meus alfarrábios, escrita numa noite silenciosa, em um sítio na Fazendola, distrito da maravilhosa e querida cidade de Rio de Contas.

Lume da Consciência
Vaga
Pela noite quieta
Enluarada
Nessa terra desabitada
Vaga lume
Ao som do riacho
À luz do lampião
E deixa o sentir
Brotar na alma
Deixe que aflorem
As coisas assustadoras
Que se escondem em si
Sepultadas por urgências
Cotidianas e urbanas
A consciência do mal
Da terrível descoberta
De que o mal existe
E está à nossa volta
E que é possível senti-lo
De que é preciso elevar-se
Para se libertar e aprender
E aprendendo ensinar
Que só a elevação é ensinamento
E aprendizado, ao mesmo tempo
De que há um tempo
Para nós na terra
E que é preciso realizar
O sentido da vida
Dentro desse tempo
De que o amor vale a pena
Mesmo que seja ingrato
E que não há derrota
Para quem ama
E se dedica
De que o lume
Da consciência
Se torna chama brilhante
Quando sintonizado
à imensa sensibilidade humana
Normalmente abafada
Natimorta
Ou simplesmente atrofiada
Pelas mesquinharias
E dificuldades deste mundo
Mas que cresce aos poucos
Se deixada flutuar
Como vagalume
Na imensa noite escura
E silenciosa.
Ricardo Stumpf / 2002



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