Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 11 de dezembro de 2011

Projeto de Arquitetura

     
 Estou terminando um ano de ensino de Projeto em uma faculdade recém criada, em Vitória da Conquista, Bahia. Peguei as quatro primeiras turmas que ingressaram em março e segui com três delas no semestre seguinte, ensinando Projeto I, no primeiro semestre e Projeto II no segundo semestre.
     Quando ingressei na Faculdade de Arquitetura, no distante ano de 1976, em Porto Alegre, os alunos só tinham aulas de projeto à partir do quinto semestre. Os quatro primeiros eram tomados com matérias preparatórias, como composição, desenho técnico, matérias teóricas de história, cálculo, etc.
     No primeiro seminário sobre currículo de arquitetura que fizemos em 1978, na UFRGS, uma das reivindicações foi que os alunos tivessem contato com projeto desde o primeiro semestre. De lá pra cá esta passou a ser uma prática comum nas faculdades de arquitetura brasileiras.
     Mas mesmo quando dei aulas de projeto na UnB, na década de 90, eram ainda apenas seis semestres de projeto. Agora são dez.
     Mas como ensinar projeto para alunos que acabaram de entrar no curso, sem a menor noção de desenho ou de metodologia de projeto? Ainda mais numa faculdade que estava abrindo suas portas e não tinha ainda nenhuma experiência acumulada?
     A ementa do curso de projeto I colocava a composição em primeiro lugar, muito corretamente.
     Nos lançamos ao primeiro mês, às aulas de composição, primeiro no plano, valorizando, movimento, ritmo, repetição, direção, sentido, cor e harmonia. Trabalhamos primeiro com pintura sobre papel, colagens e depois passamos aos trabalhos com volumetria. Tentamos trabalhar com Lego, o joguinho de armar, mas a experiência foi um pouco problemática, em função da dificuldade em achar peças adequadas à escala necessária (o Lego original é muito pequeno) e o preço. Como o original é muito caro, os alunos começaram a comprar umas cópias baratas que não se encaixavam bem. Mas mesmo assim conseguiram produzir alguns volumes bem interessantes e puderam sentir a forma, pela primeira vez, brotando das suas mãos e da sua capacidade de criar.
     Para encerrar a primeira unidade, propus aos alunos que escolhessem prédios na cidade e fizessem uma proposta de requalificação de fachadas, em forma de maquetes, ainda sem escala definida, (eles já estavam tendo aulas de maquete na disciplina de Plástica I e de expressão gráfica em Desenho I), desde que não houvesse mudanças na estrutura da edificação. A proposta era fazer maquetes em que uma face representava o edifício como é hoje e a outra a fachada requalificada.
     Uma surpresa. No final do primeiro mês de curso, recebi maquetes muito interessantes.
(nas fotos, a fachada original à esquerda e a modificada à direita)
     A seguir passamos à noção de planta baixa e escala, num rudimento de desenho técnico, que ainda estava sendo ministrado na disciplina de Desenho I, para que eles sentissem como era "entrar" numa edificação.
     Depois de um pequeno exercício, passamos a um seminário sobre condicionantes legais, para que eles entendessem o que era um Plano Diretor e um Código de obras, o que nos levou a tomar contato com a situação de extrema poluição do único córrego da cidade, o Rio Verruga, e resultou num movimento público denominado Abrace o Rio Verruga, que chamou a atenção da opinião pública local.. À partir daí fomos para um segundo exercício de projeto, uma pequena casa acoplada a um barzinho, num bairro popular da cidade, já com terreno definido e noções sobre orientação solar e divisão da planta em áreas; social, íntima e de trabalho.
     Por último passamos à um exercício de requalificação de um construção em final de obra. Eram três sobradinhos geminados, e aí já foi exigida uma primeira noção de apresentação de projeto, com pranchas com margem e carimbo, plantas, cortes e fachadas.
     Os resultados foram animadores e já pudemos observar os prmeiros talentos brotando das turmas.
     Em projeto II, começamos o semestre com um longo seminário sobre "Correntes contemporâneas da Arquitetura", que serviu para que os alunos aprendessem a identificar o que era um projeto moderno, um pós-moderno, uma arquitetura tradicional, vernacular, etc.
     Depois iniciamos nosso projeto do semestre, que era uma residência unifamiliar em uma área nobre da cidade, permitindo a eles grande liberdade criativa, já que o terreno era extenso (756m2) e o uso dos conhecimentos adquiridos até então.
     Novamente resultados muito animadores, com a reafirmação dos novos talentos que vão surgindo em Vitória da Conquista.
     No encerramento, com a apresentação das maquetes (nas fotos acima), além dos desenhos e um pequeno memorial descritivo, pudemos verificar o acerto da linha implementada pelo curso de arquitetura da FAINOR, o primeiro na região sudoeste da Bahia.
     Como profissional me senti realizado por poder coduzir estes jovens a bom termo, com resultados muitos promissores.
     





       

6 comentários:

Thaís disse...

Adorei a iniciativa Professor Ricardo! Gostei muito do seu blog e sobre a descrição que nele você expôs. Irá fazer falta! Foi muito bom ter tido você como nosso mestre em dois longos semestre.Sucesso sempre! Abraços Thaís Neves

Ricardo Stumpf disse...

Obrigado Thaís

Também vou sentir muita falta de vocês.
Parabéns pelo seu trabalho e sucesso.

Anônimo disse...

Sou de vitória da conquista e estou terminando o curso de arquitetura e urbanismo em Recife-Pe, fico feliz em ver o trabalho realizado pela equipe de professores, e pelos alunos, em 2008 quando vim para Recife, não havia o curso de arquitetura e urbanismo em VC, aqui temos projeto desde o 1° semestre tb como ideia plastica sobre volumes. no segundo aprendemos percursos trabalhando áreas publicas, e em desenho temos um pouco a ideia de penas e pranchas, plantas baixa, cortes, fachadas, e uma explicação do plano diretor e Luos e só no terceiro semestre é q passamos para a totalidade do projeto começando a projetar casas em sua diversidade, pátio, cubo, teto jardim e por ai vai... reclamo apenas a quantidade de trabalhos passados na minha universidade, ai o aprendizado é progressivo e por fim obtêm-se um resultado,(que acho mais proveitoso, pois há um aprendizado sem desgaste)aqui fazemos nos 4 primeiros semestre 4 projetos com maquetes, memorial, plantas e seminários de estudo de caso. Não sei se voltarei para Vitória da Conquista, mas gostaria de manter contato com o trabalho de Vocês. meu e-mail é dan.sanch@hotmail.com

Anônimo disse...

Meu nome é Daniel Chaves sou de vitória da conquista e estou terminando o curso de arquitetura e urbanismo em Recife-Pe. Fico feliz em ver o trabalho realizado pela equipe de professores, e pelos alunos dai. Em 2008 quando vim para Recife, não havia o curso de arquitetura e urbanismo em VC. Aqui na Universidade Católica, onde estudo, temos projeto desde o 1° semestre, tb como ideia plastica sobre volumes. No 2° semestre aprendemos em projeto II percursos trabalhando áreas publicas e em desenho estudamos penas e pranchas, plantas baixa, cortes, fachadas, e uma explicação do plano diretor e Luos. Só no 3° semestre é q passamos para a totalidade do projeto começando a projetar casas em sua diversidade, pátio, cubo, teto jardim e por ai vai... reclamo apenas a quantidade de trabalhos passados na minha universidade, ai o aprendizado é progressivo e por fim obtêm-se um resultado,(que acho mais proveitoso, pois há um aprendizado sem desgaste)aqui fazemos nos 4 primeiros semestre a cada semestre 4 projetos com maquetes, memorial, plantas e seminários de estudo de caso. Não sei se voltarei para Vitória da Conquista, mas gostaria de manter contato com o trabalho de Vocês. meu e-mail é dan.sanch@hotmail.com

Anônimo disse...

obs: por favor tire o 1° texto q enviei por engano, assim como esse.kkkkkk grato Daniel

Anônimo disse...

Parabéns!
Como foram feitas as maquetes?