Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

segunda-feira, 2 de maio de 2011


O Potencial de Rio de Contas III

     Retornando à série sobre a possibilidade de criar um modelo econômico de desenvolvimento sustentável, baseado nos potenciais de Rio de Contas, pequena cidade da Chapada Diamantina, na Bahia, o terceiro ponto que eu queria destacar é o turismo. 
     Mas que turismo incentivar? 
     Um turismo que busca gente pra passar fim de semana bebendo e fazendo algazarra na cidade, sujando tudo, incomodando os moradores, e "consumindo" as paisagens da cidade, que vão registradas em fotos para enfeitar paredes ou fotologs da internet, deixando apenas sujeira e más recordações para trás?
     Um turismo só para ricos, que impeça a entrada de turistas de baixa renda, mas que continue sendo uma venda de paisagens bonitas e históricas, só beneficiando os donos de pousadas e restaurantes e tratando os habitantes como se fossem figurantes de um cenário exótico, cobrando deles que se mantenham atrasados e simples para o agrado de gente enfastiada do seu dia-a-dia urbano estressante?
     Nenhum dos dois me parece respeitar os moradores que vivem e trabalham na cidade.
     Creio que o turismo deve ser abrangente e interativo: explico. 
     Abrangente no sentido de beneficiar o máximo de pessoas, e não apenas meia dúzia de empresários, realmente se constituindo numa fonte de benefícios para a cidade. Para isso é preciso levar em conta as características geográficas e culturais do município, fazendo com que o fluxo de visitantes se distribua por todo o seu território.
     Creio que para isso seria preciso mapear as possíveis atrações e prepará-las para receber os visitantes.
     Por exemplo: 
     Se no baixio temos uma produção artesanal de cachaça, pode-se organizar excursões para visitar os alambiques, como os produtores de vinho fazem na serra gaúcha. 
     Se nos gerais temos uma produção importante de flores, porque não montar uma excursão para visitar as plantações de flores e comprar seus produtos, flores, mudas e sementes? 
     Se temos dois antigos quilombos, seria preciso pesquisar a história desses assentamentos e montar pequenos museus que pudessem ser visitados, além de uma feira de produtos locais que pudesse ser vendida aos turistas.     
     Temos também uma coisa única; uma comunidade remanescente indígena dentro da sede, que continua empobrecida e discriminada, cuja história poderia ser estudada e oferecida através de um museu específico, empregando membros dessa comunidade, gerando empregos para eles.
     Temos vários locais com histórias interessantes para serem contadas, como a da passagem da Coluna Prestes, além de todo um percurso da Estrada Real, ou do "Caminho da Bahia", como era conhecido este trecho das antigas estradas coloniais que ligavam Minas Gerais à Salvador, que precisam ser mapeadas, num trabalho conjunto com outros municípios baianos, que provocassem um fluxo contínuo de turistas, oferecendo atrações ao longo de seu percurso, como comidas típicas e produtos regionais.
     Além disso, temos todo um patrimônio ambiental e paisagístico que poderia ser muito melhor explorado se fossem criadas pequenas unidades de conservação em torno das principais cachoeiras e picos montanhosos, de forma a protegê-los e prepará-los para receber visitantes, não apenas turistas, mas também estudiosos da natureza, cientistas ou mesmo excursões de estudantes, em busca de educação ambiental.
     É claro que para isso precisaríamos resolver alguns problemas ambientais locais, principalmente o lixo, que continua sendo despejado num lixão, e os agrotóxicos, o investimento em meio ambiente andando junto com o esforço para construir um turismo sério.
     Além disso poderíamos promover alguns eventos anuais para atrair visitantes fora das temporadas, como festivais culturais (música, teatro, gastronomia, etc.) além de restabelecer o carnaval tradicional.
     Manter a cidade cheia não basta, é preciso oferecer atrativos de qualidade, distribuir benefícios por toda a população e principalmente, fazer com que o turista se adapte à cidade e não o contrário, como ocorre hoje, quando o habitante é obrigado a aturar todo tipo de desrespeito.
     O turista tem que se integrar temporariamente à cultura local e seu estilo de vida, ao invés de nos impor seus valores (ou sua falta de valores), daí a classificação de turismo interativo no sentido de dialogar com a população local.
     É claro que manter estradas vicinais e trilhas  limpas e policiadas, vai ajudar a atrair investimentos. Mais pousadas, inclusive em áreas rurais, vão fazer o dinheiro circular mais e atrair cada vez mais visitantes, criando um círculo virtuoso.
     Creio que com as três propostas que veiculei nessa e nas duas edições anteriores deste blog, atração de um campus universitário, desenvolvimento da agricultura orgânica e um turismo abrangente e interativo, teríamos um modelo de desenvolvimento para o município capaz de tirá-lo das últimas posições do IDH nacional e promover o bem-estar da sua população.
     É claro que falta clareza e vontade política das lideranças locais para implementar um plano como este, mas estamos vivendo um período de renovação que pode abrir espaço para alguém com visão suficientemente ampla para fugir do tradicional clientelismo e dos "grupos" que se revezam no poder, governando apenas em proveito próprio, abrindo caminho para a construção de políticas públicas dignas deste nome.

 

Um comentário:

clovis disse...

OLA RICARDO! ESCLARECER E COMO VER O SOL e LUA GRATUITAMENTE.AGRADECIDOS ENSINAMENTOS P SOCIO/COMUNIDADES.ABRAÇOS.