Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 29 de maio de 2011



A indignação necessária

As grandes manifestações por democracia surgidas na Tunísia e no Egito, atravessaram o mar mediterrâneo e chegaram à Espanha, resultando na ocupação de mais de 150 praças no país, por jovens que se auto-intitulam os indignados. Eles rejeitam a intervenção do FMI na crise econômica européia, com suas velhas fórmulas de cortes nos gastos sociais e nos direitos trabalhistas, favorecendo o capital para que este tenha mais dinheiro para investir e relançar um capitalismo cada vez mais desgastado pelas crises sucessivas.
Os indignados dizem que o mercado sequestrou a democracia e que estão cansados deste modelo antigo de economia, pedindo uma democracia mais profunda, mais autêntica, onde a população tenha maior controle sobre a economia, não ficando refém das aventuras empresariais de uma minoria.
O movimento já se refletiu na França, onde surgiu um movimento intitulado Chamado do 21 de abril, em referência à necessidade de participação dos jovens nas eleições que se aproximam, evitando a repetição das eleições anteriores, onde dois candidatos de direita se enfrentaram num dia 21 de abril, deixando a maioria da população sem alternativa política.
Esse movimento pró-aprofundamento da democracia, com forte componente ambiental, busca a construção de um novo modelo de economia política, onde as grandes decisões sejam tomadas pela maioria em benefício de um futuro comum. Tudo a ver com o slogan dos Fóruns Sociais Mundias: Um outro mundo é possível. 
No Brasil também percebemos o mesmo desgaste das fórmulas tradicionais de fazer política. Hoje temos duas alternativas: o capitalismo para todos do PT e sua grande base aliada e o velho capitalismo para poucos do PSDB e do DEM. Todos dois nos levam em direção ao desastre ambiental e à uma sociedade cada vez mais violenta.
Nossas cidades estão se tornando um pesadelo. O progresso dos anos positivistas as transformaram em lugares onde imperam o crime e o crescimento desordenado, filho da especulação imobiliária. 50 anos depois de Brasília, ainda almejamos crescer, crescer, crescer, como se fossemos pequenos, como se o Brasil precisasse demonstrar alguma coisa ao mundo para viver.
A imagem do Brasil no exterior, o que pensam da gente lá fora... não passam de um complexo de inferioridade das nossas velhas classes dominantes, que os velhos conglomerados de TVs repetem sem cessar, repercutindo na inconsciência dos mais novos todas as frustrações dos mais antigos.
Enquanto isso nosso interior continua atrasado, a natureza continua sendo derrubada, destruída pela força do progresso. O que o Brasil tem de melhor, a sua natureza fantástica, continua sendo olhado com desprezo, agora com uma consciência ecológica forçada pelas circunstâncias mas que não passa de formalidade obrigatória para nos inserir no rol das nações ditas civilizadas.
A praga positivista ainda nos assola, impedindo a objetividade, que ficou prisioneira da nostalgia de um interior que não existe mais, dos pássaros que vão desaparecendo, do ar puro e dos rios que vão sendo rapidamente contaminados pelo agronegócio.
Onde está o Brasil que olhe para si mesmo sem se comparar com outros povos? Que se aceite na sua gigantesca diversidade, que valorize a sua paz, ao invés de querer fazer parte do Conselho de Insegurança da ONU? 
Onde está nossa coragem de nos sabermos uma civilização diferente, tropical, sensual, musical, que pode muito bem viver sem engarrafamentos inúteis, sem uma produtividade que destrói muito mais do que produz, sem uma acumulação que só reafirma nossas piores tradições coloniais de privilégios e infelicidades?
São Paulo nunca será uma Nova Iorque, graças à Deus. O Rio nunca será uma Paris, ainda bem. Brasília nunca será a capital do mundo: que alívio!
Talvez seja a hora de também dizermos não a essas políticas sem saída, a esse consumismo que tudo polui e destrói, a esse empilhamento de riquezas inúteis, à essa necessidade de correr de um lado para o outro, como se estivéssemos construindo alguma coisa que não seja apenas a nossa própria ruína, à tanta competição e dizermos sim a mais cooperação, mais segurança para a vida do cidadão comum. 
Vamos apenas viver bem, distribuir entre nós nossa imensa riqueza e esquecer de tentar repetir a história insensata que outros povos já percorreram, antes que seja tarde.
Que a ecologia e uma nova democracia triunfem, que as grandes cidades diminuam e as pequenas aumentem, distribuindo melhor a população, para que possamos ir até esquina sem medo. Que a justiça seja rápida, embora saiba perdoar. Que nossas prisões se transformem em escolas do bem e o exército sirva para defender nossa paz, além de ajudar o povo a ser feliz. Que nossa educação seja federalizada, se libertando da politicagem municipal. Que a ciência floresça nas nossas universidades para servir à humanidade.
Abaixo as ilusões de poder e glória! Viva a poesia e a alegria de viver!

Um comentário:

Cláudia Souza disse...

"Que a ciência floresça nas nossas universidades para servir à humanidade." Sou sua fã! : )