Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

quarta-feira, 7 de abril de 2010





Velhas tragédias

     Em duas ocasiões anteriores, aqui no blog, comentei sobre construções irregulares em encostas, principalmente nas grandes cidades, dizendo que todos os anos haviam desmoronamentos e que continuariam morrendo pessoas, especialmente crianças, devido à omissão histórica de governantes que preferem fechar os olhos aos efeitos perversos de uma situação fundiária, que privilegia os especuladores em detrimento dos moradores das cidades brasileiras.
     Dezenas de livros já foram escritos sobre isso, seminários, estudos, e muitos discursos, tudo em vão, pois nem um partido político assumiu a reforma urbana como bandeira, a não ser muito marginalmente, como uma intenção no horizonte.
     Outro discurso falsificado, foi denunciado aqui também várias vezes, de que a água do planeta iria acabar em função do aquecimento global, que produziria grandes secas. Fomos bombardeados com imagens de pesadelo, num mundo ressequido, onde a vegetação e os animais morreriam de sede e a humanidade pereceria em meio a um pesadelo de calor e fogo.
     Para quem leu Arqueologia Brasileira, de Andre Prous (Editora Universidade de Brasília), fica evidente que a primeira consequência do aquecimento é o degelo dos pólos e que isso significa uma era de chuvas torrenciais. A água retida no gelo volta ao grande ciclo das águas e isso acontece em forma de chuvas. Segundo Prous, o fim da última era glacial resultou num período de 100 anos de chuvas intensas sobre o planeta.
     O que estamos observando no Rio de Janeiro por esses dias é o encontro desses dois fenômenos, as chuvas torrenciais, que estão se tornando cada vez mais frequentes, e que caem como um gigantesco balde d'água sobre pontos aleatórios da superfície terrestre, e a ocupação desordenada das encostas pelas construções irregulares, toleradas pelos governantes, por não quererem mexer nos interesses poderosos das incorporadoras que controlam a produção do espaço urbano no Brasil.
     Desde a primeira grande reforma urbana no Rio de janeiro, no início do século XX, quando ações moralizadoras destruíram os cortiços onde moravam os mais pobres, sem lhes oferecer nenhuma outra alternativa, essas populações começaram a subir os morros do Rio, criando aquilo que se tornaria conhecido como favelas, porque a primeira ocupação ocorreu no Morro da Favela, um morro onde era comum a pequena planta que dá favos e que por isso tem o nome de favela.
     A última política nacional de habitação digna deste nome (apesar de todos os seus equívocos) foi abandonada em 1986, com a extinção do BNH e substituída por ações ocasionais dos governos locais e estaduais. Só agora com o PAC, o governo federal retomou a iniciativa nesse setor, mas sem a preocupação de diagnosticar as causas do problema (o que iria ferir grandes interesses) e agindo sempre no sentido de corrigir os efeitos da especulação, ao invés de instituir um sistema de planejamento urbano digno deste nome.
     O pior é ver as caras cínicas dos governantes na televisão culpando a natureza pelas tragédias recorrentes, agora pioradas pelo degelo.
     Espero que os candidatos do Partido Verde, o único que propõe mudanças no modelo de desenvolvimento, se pronunciem sobre as políticas urbanas necessárias para nos libertemos desse caos anual e dessas tragédias onde famílias inteiras tem que morrer soterradas, para que uma minoria continue lucrando com a valorização imobiliária.

Abraço a todos, especialmente às famílias enlutadas da minha cidade maravilhosa, tão machucada.

Ricardo Stumpf

10 comentários:

Anônimo disse...
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Ricardo Stumpf disse...
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Anônimo disse...
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Ricardo Stumpf disse...
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Ricardo Stumpf disse...
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Anônimo disse...

Você é tão democrático...
É tão fácil publicar o seu pensamento e excluir o dos outros, não é? E depois vc quer falar de democracia. Vc não disse que este espaço é para criar uma discussão efevescente? Efervescência para vc só serve a de sonrisal, que depois de curar a ressaca não precisa mais fazer uso?

Anônimo disse...

Ricardo, gosto muito de seu blog, acho você um cara muito inteligente e corajoso. Qualquer dia quando eu for a Rio de Contas quero lhe conhecer. Parabéns pelos artigos do seu blog e os livros de sua autoria. Um abraço amigo e boa sorte.

Ricardo Stumpf disse...

Prezado Arnaldo

Eu sei que é vc.
Todas as contribuições são bem-vindas, desde que deixem fluir o pensamento meu e dos outros que contribuem.
O seu problema é que vc cisma com uma coisa e fica em cima dela, querendo mudar a minha opinião ou a de outros que aqui escrevem.
Vc tem de se contentar em dar a sua opinião e deixar que as pessoas formem a opinião delas.
Não dá pra controlar o pensamento dos outros.
Espaço democrático é isto. Eu falo, vc discorda, outra concorda, mas não há necessariamente uma conclusão sobre o assunto.
O seu problema é que você ao discordar, não admite que a opinião do outro permaneça.
Isso é falta de formação democrática da sua parte.
Pode comentar, mas não tente forçar os outros a aceitar o seu pensamento.
ÊH menino intiquento!

Anônimo disse...

VIVA OS DEMOCRATAS!!!
FORÇAR A ACEITAR O PENSAMENTO ÚNICO É QUANDO VC INSISTE EM FALAR QUE SÓ O PV TEM A SOLUÇÃO PARA A QUESTÃO URBANA NO BRASIL. ANTES ERA O PT AGORA É O PV.
POR SER DONO DO BLOG VC APAGA OS COMENTÁRIOS E VEM FALAR DE DEMOCRACIA. EU ESTOU CERTO DE QUE UM DIA VC VAI SE FILIAR AO DEM, AÍ SIM PODERÁ SER CHAMADO DE DEMOCRATA.