Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 2 de dezembro de 2012

O Paiz

 
O Planeta perdido
 
A notícia é essa:
     Uma equipe de astrônomos franceses e canadenses descobriu um planeta errante no espaço. Sem uma estrela hospedeira, o CFBDSIR214 está a cerca de 100 anos-luz do Sistema Solar, a distância mais próxima da Terra até agora encontrada para um objeto do tipo.
     Para detectar o planeta, o Observatório Europeu do Sul (ESO) contou com o chamado Very Large Telescope, um telescópio gigante localizado no topo do vulcão adormecido Mauna Kea, no Havaí.
     Fiquei pensando sobre este astro errante, perdido no espaço, sem a companhia de um sol que lhe aqueça e dê vida. Enquanto nós aqui na terra, termos água, sol, e muita vida e o que fazemos com ela?
     Pra quem acompanha o noticiário do Brasil e do mundo, dá uma tristeza enorme.
     Em São Paulo assassinatos em série, favelas sendo incendiadas com gente dentro, por especuladores imobiliários, no Brasil corrupção endêmica nos órgãos públicos, índios Guarani-kaiowá sendo expulsos de suas terras por capangas de fazendeiros, a educação em penúltimo lugar no mundo, entregue a municípios e estados que não se interessam ou não tem capacidade de gerenciá-la.
     No mundo guerras, terrorismo, carros bomba matando inocentes, na Síria um ditador que não hesita em massacrar seu povo para se aferrar ao poder, em Israel um povo que já foi tão perseguido, perseguindo outro povo, o palestino, e repetindo com eles tudo que sofreu nas mãos da loucura nazista. Nas calotas polares o gelo derrete rapidamente graças ao aquecimento global movido pela ganância empresarial.
     Preconceitos contra negros, homossexuais, violência generalizada...
     Tento me divertir um pouco no facebook e vejo um festival de besteiras, gente que não tem o que fazer atormentando os outros com suas "verdades", defendendo interesses próprios disfarçados de "causas", tentando impor suas religiões, falando de sua vida sexual...
     Dá vontade de largar tudo e sair por aí como fazia a juventude dos anos 60, como um planeta errante, sem rumo.
     Talvez eu seja mesmo como um planeta perdido, já que ainda acredito no socialismo. Vendo todo o potencial de regressão que o capitalismo é capaz de desenvolver na sociedade humana, estimulando os piores instintos, dando asas à fantasias de riqueza e poder nas pessoas, que perdem seus escrúpulos para realizá-las, ou então enchendo de frustração aqueles que não conseguem concretizar os sonhos idiotas de "ter mais" ou "ser mais" do que os outros.
     Quando vejo as crianças nos videogames das lan houses, brincando com seus jogos de matar ou de atropelar pessoas com suas armas e carros virtuais, não vejo nada que preste no futuro.
     Quando vejo as ideologias desaparecerem e os partidos se misturarem, num grande bolo sem sabor e sem recheio, penso no que será de nós, país emergente, destinado a comandar o mundo junto com Índia, China, Rússia e África do Sul, os Brics, enquanto o chamado mundo ocidental afunda.
     Eu ainda acredito em Deus, não como um ser superior, mas como um princípio, uma luz que dá sentido ao universo e que guia todos os acontecimentos. Quem sabe esteja mesmo na hora deste mundo acabar, não fisicamente, mas espiritualmente. Quero dizer esta civilização materialista, destruidora, egoísta e cada vez mais sem sentido. Talvez esteja mesmo na hora dela chegar ao seu fim, como predisseram os maias, para dar lugar a uma nova era, onde a ciência, a arte e o progresso venham ocupar o lugar de tanta estupidez.
     Para mim esta era deveria ter sido o socialismo, mas não foi. O homem não estava preparado para realizá-la e confundiu tudo, perdendo a oportunidade de construir o paraíso sobre a terra, transformando o sonho num terrível pesadelo. Mas o sonho não morreu, ele vive no coração confuso dos homens e mulheres deste pobre planeta, cada dia mais perdido.
     E quando vejo a vida tão difícil do povo e o egoísmo tão cego dos ricos, só consigo pensar que está na hora de parar, de mudar, de transformar e peço a Deus pelo nosso Brasil e por esta pobre humanidade.
 
 
 

AMOR VERDADEIRO
Crônica escrita originalmente para a rádio Rio de Contas FM, em 2007
 
 
Na pedra, na Curriola, o nome está lá para quem quiser ver. A data, 1972.
Mais adiante, outra vez o mesmo nome, com a mesma declaração de amor. A data: 1991. Quase 20 anos separam as duas declarações, os dois apelos de um homem apaixonado.
Passeando por ali, onde a água faz uma volta violenta, vi as inscrições e imaginei o rapaz apaixonado, solitário, olhos fixos nas revoluções da água. Terá ele conseguido conquistar sua amada, ou foi apenas um longo sofrimento de amor?
Tem gente que diz que os jovens não sabem mais o que é amor verdadeiro e só pensam em sexo. Fiquei pensando se isso pode ser verdade. Ninguém escolhe amar. Isso é uma coisa que acontece de repente, às vezes só uma vez na vida. Como podem os jovens de hoje evitar que o amor irrompa em seus corações?
Resolvi perguntar para pessoas adultas se acreditam no amor e tomei um susto. A maioria não acredita, acha que é só achar alguém pra se dar bem e levar uma vida boa ou mais ou menos e tudo bem.
Mas afinal o que vale a pena na vida? O trabalho, com certeza é uma coisa que vale a pena. Poder ter o sustento sem viver de favores é muito bom. Fora isso é o amor, que mantém o coração aquecido e nos dá ânimo para tudo, inclusive sonhar com o que queremos na vida e trabalhar para alcançar.
É o amor que nos faz construir uma família e cuidar dos filhos, dos pais na velhice, defender essa grande família que é a nação brasileira, defender a terra, as plantas e a água, que dão a vida a todos, bichos e gentes.
Sem amor não há vida. Sem amor só haveria escuridão, frio e morte.
Sendo assim, como poderiam as pessoas não amar mais? Estava pensando nisso quando ouvi a canção de amor no rádio e pensei:
_A maioria das músicas fala de amor, porque será?
Apesar do egoísmo, da violência, das guerras, de todos os sentimentos primitivos que ainda habitam o coração do homem, temos o sopro da criação divina, que nos leva para o lado bom. Os sinais estão por toda a parte e aqueles que fingem não acreditar no amor, estão apenas se enganando.
A mensagem na pedra da Curriola, reconstruiu em mim a certeza de que o amor verdadeiro existe e de que, em cada um de nós, no meio dessa imensa humanidade, está viva a capacidade de amar.