Cecília
Pois é, amigos leitores, o ano de 2009 termina para mim com o nascimento de mais uma neta, fruto de uma gravidez precoce, não planejada, embora não se possa dizer não desejada, porque minha casa sempre esteve pronta para mais crianças.
Ter filhos tão jovem, aos 17 anos, é um erro, dirão uns, uma temeridade, dirão outros, uma dificuldade para a mãe, dirá a maioria, pensando numa vida previsível, com formaturas e casamentos.
Mas a vida não é assim, um caminho certinho, pelo
qual vamos andando, sempre sabendo o que nos espera na próxima curva. A vida nos surpreende e isso é bom porque o ser humano precisa sempre de desafios.
Este novo ser surpreendeu a todos, pela força com que irrompeu neste mundo, pela sua vitalidade e serenidade na barriga da mãe e finalmente por não respeitar os calendários calculados pelos médicos.
Sentada e sorrindo nas ultra-sonografias, desafiou alegremente todas as previsões, destruiu docemente muitos planos e nasceu com a força de uma beleza surpreendente.
Meu incorrigível coração de criança recebe com alegria mais essa dádiva que nos chega pelas mãos do criador, assim como um dia me chegou sua mãe (que também chegou desafiando dogmas e enfrentando a vida com coragem e alegria), abençoando mais uma vez a minha casa com esse choro que é mais um canto de vida e de esperança.
Retratos de Amor
Numa tumultuada viagem a Brasilia, conheci Tereza Cristina, mais conhecida como Doutora Tereza, a juíza, hoje aposentada das suas lides jurídicas.
Mas não foi como doutora que eu a conheci, apesar das suas saborosas histórias de casos ocorridos no exercício da profissão. Foi a Tereza Cristina dos banhos de rio em Correntina (junto com a também doutora Noedi, velha amiga de Rio de Contas) e das emoções indesejadas de um imprevisto problema mecânico na estrada, que nos deixou no meio do ermo por algumas horas.
Cheio de coisas para fazer em Brasília, não entendi quando soube que ela havia deixado um presente para mim, que foi parar nas mãos de minha mãe e de meu filho Mário, muito antes de que eu pudesse vê-lo.
Só agora, nesta outra tumultuada visita a Brasília, interrompida pelo nascimento precoce de Cecília, pude ler no ônibus, Retratos de Amor, de Rubem Alves (Papirus Editora; 8a edição, 2002) e, confesso, com grande emoção.
Posso dizer com serenidade que é o livro mais bonito que ganhei de presente em toda a minha vida.
Não pode ser coincidência que tal leitura me tenha caído nas mãos, justamente quando voltava ansioso para conhecer minha neta, que estava nascendo em Conquista.
Falar sobre o amor não é novidade, mas falar com tal desenvoltura, com tanta inspiração e com tanta compreensão sobre os sentimentos humanos, eu nunca vi.
Ler sobre o amor quando se está cheio de expectativas para receber mais um ser amado, que está nascendo, é uma benção.
Gostaria de selecionar algum trecho dessas crônicas deliciosamente poéticas sobre o amor, mas na impossibilidade de escolher uma melhor, já que o livro é um emaranhado de citações e reflexões, todas entrelaçadas, e que vão construindo uma idéia muito interessante das peças desse mosaico de que é feito o amor, transcrevo o que me parece conclusivo, quando Rubem Alves cita Drummond, ao falar do amor de Abelardo e Heloísa:
O Amor é primo da morte, e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.
Obrigado Doutora Tereza
Abraço a todos
Ricardo Stumpf