Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

sábado, 17 de março de 2012

Rapidinhas

A cúpula das Américas e a visita de Harry

     Há 30 anos a Argentina retomou as ilhas Malvinas, invadidas pelos ingleses no século XIX. A Inglaterra foi à guerra com apoio dos Estados Unidos, que desrespeitaram um tratado interamericano (TIAR) que diz que caso qualquer país das Américas seja atacado por outro de outro continente, todos os países americanos deveriam apoiá-lo.
     O Tiar servia apenas contra os russos e é uma relíquia da guerra fria, ainda vigente (porque o Brasil não o denuncia?). Agora que a América Latina se une em torno ao boicote a navios com a bandeira ilegal das Malvinas, o príncipe Harry cujo irmão William anda por lá, fazendo demonstrações militares num helicóptero de guerra, vem ao Brasil segurar criancinhas no colo nas favelas cariocas, numa tentativa de angariar simpatia.
     Ridículo.
     Em paralelo os americanos vetam Cuba na tal Cúpula das Américas, na Colômbia. Quem deu a eles esse direito de veto? Outra relíquia da guerra fria. E nós, vamos participar desse beija-mão com a potência do norte? A única aliança real que existe nas águas do Atlântico sul é entre Estados Unidos e Inglaterra, o resto é submissão pura.
     O Brasil não tem nada que fazer nessa tal cúpula. E esse príncipe, representante da decadente aristocracia européia, não tem nada a fazer por aqui.
     Fora com essa gente!

Tchauzinho


     Já vai tarde Ricardo Teixeira. Dilminha conseguiu derrubá-lo, sem dizer uma palavra.
     Parabéns presidente! Pôxa, que faxina que não acaba nunca, né? A sujeira é muita!
     Até o Jerôme Valcke entrou na dança.
     É isso aí, respeito é bom e nós gostamos!

Horror!

     O massacre de famílias inteiras no Afeganistão, mostra o desespero dos americanos por não conseguir ganhar aquela guerra.
     Mas afinal, o que eles estão fazendo lá, junto com seus aliados ingleses, franceses, alemães, australianos, etc?
     Hora de enfiar a violinha no saco e ir embora.
     Já no século passado os ingleses e os russos tiveram que se retirar. Ninguém consegue dominar aquele país. Chega de guerras para defender pretensos orgulhos nacionais de países que não admitem ser derrotados. Aliás chega de guerras de qualquer tipo.
     A guerra deveria ser considerado um crime, assim como a tortura. Todo dirigente que provocasse uma guerra deveria ser apeado do poder, julgado e condenado. Isso não faz mais sentido.
     O mundo precisa é de paz.

Encontro literário em Livramento
     A professora Esther Lígia, uma das maiores batalhadoras pela cultura no sudoeste da Bahia, me manda convite para um encontro literário na cidade de Livramento.
     Fica aí o convite estendido a todos os interessados.
 

E por falar em literatura, deixo aqui um pouco da obra fabulosa de Manuel Bandeira,

POÉTICA


Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto expediente, protocolo e manifestações de apreço ao Sr. diretor.
Estou farto do lirismo que pára e vai averiguar no dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade, tabela de co-senos, secretário do amante exemplar com cem modelos de cartas e as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
Não quero saber do lirismo que não é libertação.



Manuel Bandeira

A Cidade Assassinada
        Era uma pequena cidade, no meio de serras lindas. Seus amanheceres e entardeceres eram inspiradores para todos que lá viviam. A quase 1000 metros de altitude, em plena Chapada Diamantina, no coração da Bahia, a cidadezinha era um oásis de paz, onde famílias centenárias viviam, criando seus filhos de portas abertas e onde a cordialidade era a marca registrada de seus habitantes.
     As cachoeiras e orquídeas eram uma marca registrada do seu ambiente natural e as pessoas chamavam o lugar de paraíso devido à paz que reinava. 
     A política do lugar, no entanto, era refém de um passado de coronelismo, mas mesmo assim tinha algo de pitoresco, e os habitantes lidavam com isso de forma jocosa, procurando tirar proveito das mentiras dos políticos, aceitando esse atraso como uma coisa que não interferia muito em suas vidas particulares, sempre pacatas.
     Suas festas eram conhecidas pela tranquilidade e originalidade, atraindo turistas e curiosos, que queriam encontrar ali algo que as cidades brasileiras já tinham irremediavelmente perdido e ficavam encantados com tudo, voltando sempre e cada vez mais a cada ano
     Até que uma alma ressentida, de um homem incapaz de realizar seus próprios desejos, resolveu se vingar da vida, destruindo toda aquela felicidade que o ofendia.
     É sabido que pessoas infelizes não gostam da felicidade alheia.  
     Resolveu então matar tudo aquilo, roubando a felicidade dos olhos dos mais velhos e destruindo a esperança nos olhos dos moços. 
     Acabou com as festas, transformando tudo num grande comércio onde só ele ganhava muito dinheiro. Começou a perseguir todos que tivessem um pequeno brilho de felicidade no olhar e a escravizar os que precisavam trabalhar na Prefeitura.
     Ficou decretado, então, que era proibido ser feliz e que todas as pessoas que tivessem idéias diferentes das dele deveriam ser expulsas ou silenciadas, para que ninguém se atrevesse novamente a sorrir.
     As pessoas, acostumadas a uma vida tranquila, não souberam como lutar contra aquela nuvem de tristeza que foi tomando conta de tudo e começaram a morrer.
     Primeiro morreu-lhes o sorriso nos lábios, depois o brilho nos olhos, e assim suas almas foram murchando, se apagando, como num terrível conto de fadas, onde a felicidade ficou presa num castelo cheio de espinhos.
     Assim a cidade foi morrendo. Os que tiveram forças para sair, se foram, deixando um vazio em seu lugar. A cada um que saía, o vazio aumentava, e aumentava também a satisfação daquele que queria matar a felicidade geral.
     Tudo começou a morrer, para que ele, o assassino da cidade, pudesse finalmente se vingar e ser feliz, dentro da sua imensa e incurável tristeza.  E apenas ele e seus escravos, que eram muito bem recompensados, desde então puderam viver, enquanto tudo o mais definhava, na tristeza e na solidão daquela serra, cada dia mais gelada.
     E até hoje a cidade vive assim, no dilema de ter de lutar contra o tirano que reduziu tudo a nada, tendo para isso que abandonar seu modo pacato de vida, ou simplesmente esperar que o tempo mude as coisas e leve embora o assassino da alegria, restaurando a luz nas suas vidas.
     Alguém sabe que cidade é essa?