RIO DE CONTAS: A CULTURA ABANDONADA II
FALAM OS ARTISTAS
Prezado amigos leitor, antes de passar a palavra aos artistas, preciso esclarecer que minha indignação com o abandono da cultura e especialmente do Teatro São Carlos, em Rio de Contas, é legítima. Porém, não desejo que essa indignação se transforme em instrumento político para quem quer fazer oposição ao governo municipal. Meu objetivo é levantar a discussão sobre o tema é tirá-lo do ostracismo em que se encontra.
Acho que a Cultura, numa cidade como a nossa, merecia mais do que uma coordenação, ela precisaria ter uma Secretaria, chefiada por alguém que conheça e dê valor a cultura e que saiba correr atrás das verbas necessárias.
Acho que para isso a classe artística da cidade precisa se unir e levantar suas reivindicações.
Por isso inicio hoje uma série de entrevistas com artistas (nascidos ou radicados) em Rio de Contas e aproveito para dizer que é preciso acabar com essa bobagem de diferenciar quem é de fora ou nascido aqui. Somos todos brasileiros e como em todo lugar do Brasil existem baianos, inclusive riocontenses, aqui também têm direito de viver os cariocas, paulistas, gaúchos, ou seja lá de que pedaço desse Brasil forem. Inclusive alguns estrangeiros se tornaram autênticos rioconteses, por amor a essa terra. Num tempo de integração e globalização, esse tipo de preconceito não faz mais sentido.
Começo essa série entrevistando Claudete Eloy e Jairo Albuquerque. A pergunta para eles foi a mesma: O que você acha da situação atual da cultura em Rio de Contas? O desdobramento da resposta também foi na mesma direção, indicando algumas proposições.
Claudete Eloy
Não há nenhum incentivo à cultura em Rio de Contas. O teatro está abandonado, sendo que é o segundo teatro mais antigo do Brasil em funcionamento.
Existem muitas pessoas na cidade querendo fazer teatro e sem condições, como eu. Grupos de adolescentes amadores é que fazem seus trabalhos sem nenhum apoio. Os que se destacam têm que sair da cidade para progredir.
Há potencial para formar uma companhia permanente para jovens, adultos e também para a terceira idade (teatro-terapia). Na verdade faltam atores idosos no mercado. Muitos começam fazendo teatro como terapia e descobrem a carreira artística.
Vejo a possibilidade de realizar um FESTIVAL DE TEATRO UNIVERSITÁRIO na cidade. As universidades financiam o transporte e estadia dos seus grupos teatrais, o que barateia o custo da realização de um evento como este. A cidade já é um cenário especial, com seu patrimônio histórico e as belezas naturais, o que atrairia mais público, incentivando um turismo de alto nível, chamando a atenção de todo o Brasil e trazendo mais cultura para Rio de Contas. Acho que seria necessário também oferecer cursos de artes plásticas, para formar verdadeiros artistas aqui, e não apenas artesãos. Talento é que não falta. Precisamos aqui, de uma verdadeira Secretaria de Cultura.
(Claudete Eloy é formada em Belas Artes e pós-graduada em cenografia pela UFBA, onde é professora da escola de Teatro. Encontra-se licenciada e vive em Rio de Contas desde 2002. Tem no seu currículo mais de 80 espetáculos teatrais realizados, em 30 anos de trabalho, todos muito bem recebidas pela crítica).
(Claudete Eloy é formada em Belas Artes e pós-graduada em cenografia pela UFBA, onde é professora da escola de Teatro. Encontra-se licenciada e vive em Rio de Contas desde 2002. Tem no seu currículo mais de 80 espetáculos teatrais realizados, em 30 anos de trabalho, todos muito bem recebidas pela crítica).
Jairo Albuquerque
Nós temos aqui dois espaços culturais abandonados; o Teatro São Carlos e o Club Riocontense.
O Clube foi fundado em 1902. Sua sede foi dimensionada para a época, mas hoje não serve mais para um clube. As festas realizadas lá incomodam muito a vizinhança, com o som eletrônico em alto volume. Os registros foram perdidos, não existe mais uma secretaria, nem registro dos sócios, nem uma diretoria que, no entanto, poderia ser recomposta à partir dos estatutos que se encontram no arquivo público. É um espaço que deveria ser utilizado exclusivamente para a cultura.
Faltam cursos na área da cultura, arte, música, dança, etc. O Museu Zofir e o Museu Arqueológico, são realidades que também precisam contar com o apoio do governo municipal.
Nós precisamos reunir a classe artística para discutir a temática cultural, buscando soluções conjuntas com as pessoas ligadas ao meio, para definir objetivos e reivindicações. Eu apoio a criação de uma Secretaria de Cultura.
(Jairo Albuquerque é artista plástico, já foi Secretario de Turismo, Meio-ambiente, Cultura e Desporto, em governo anterior. Escultor e pintor, trabalha com miniaturas em giz, pintura à óleo e aquarela. É autor do monumento em homenagem aos bandeirantes, existentes na Praça da Matriz.)
Abraço a todos
Ricardo Stumpf