Histórias de outras vidas (6)
A IRMÃ DO ASTRONAUTA
O ano era 1984, o local; um convento de freiras em Ariquemes, Rondônia.
Como eu fui parar lá? Bom, tudo começou na Vila Maria da Conceição, em Porto Alegre, um ano antes.
Ao final do meu curso de arquitetura, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, escolhi como tema para o trabalho de diplomação a urbanização de uma favela, próxima à minha pequena casa alugada, conhecida como Vila Maria da Conceição, ou Maria Degolada.
Era uma favela espremida no meio de prédios e casas, ao longo de uma faixa que subia o morro por um lado e descia pelo outro, começando na avenida Bento Gonçalves, passando pelo bairro Caldre Fião (no alto) e descendo em direção à Terezópolis.
O apelido Maria Degolada, se devia a um crime, onde uma Maria foi degolada por seu amado, em cima de uma pedra, local que se tornou alvo de devoção e peregrinação em torno de supostos milagres.
Me ofereci para fazer o trabalho junto ao Centro Comunitário, que funcionava no alto do morro, e onde trabalhavam várias estudantes do serviço social, orientadas por uma assistente social formada. Entre elas uma freira, Lúcia, que tinha um sobrenome italiano.
Fiz muitas amizades por lá, embora o trabalho não tenha sido concluído devido à interferência de uma outra freira que controlava tudo por lá, em nome de uma ONG de propósitos mais do que duvidosos.
No ano seguinte, 1984, soube que irmã Lúcia tinha ido para Rondônia, servir em Ariquemes. Era época de muito desemprego e também de grandes migrações de agricultores do sul para Rondônia, expulsos pela cultura da soja e que iam em busca de terras distribuídas pelo governo do então território.
Pensando em conseguir um emprego e também curioso para conhecer e entender o que estava acontecendo por lá, peguei um ônibus para Campo Grande, outro para Cuiabá e finalmente um para Ariquemes, pela BR-364, Cuiabá-PortoVelho, então inteiramente de terra. De Cuiabá a Porto Velho eram mais de 2.000 Km de estrada de chão, num ônibus que ia corcoveando. Uma aventura.
Consegui chegar a Ariquemes e fui muito bem recebido pela irmã Lúcia, que inclusive me hospedou no convento das freiras, o que eu supunha fosse proibido.
Lá, as várias irmãs se revezavam nos trabalhos, apoiando as famílias que chegavam do sul e recebiam um pedaço de mata virgem para derrubar, sem nenhuma ajuda do governo. Muitos morreram em função de doenças ou árvores que caíam sobre eles. Crianças pequenas morriam de malária logo nos primeiros anos, desacostumadas que estavam àquele meio ambiente.
Era um projeto americano, patrocinado pelo Banco Mundial com apoio do governo militar, para ocupar a fronteira com a Bolívia de forma a prevenir a ameaça de possíveis guerrilhas, como a tentada por Che Guevara.
Em termos ambientais e humanitários o projeto foi um grande desastre, embora tenha conseguido povoar Rondônia. A principal conseqüência da ocupação foi transformar Rondônia em porta de entrada para o tráfico de drogas, que a partir dali instalou seus cartéis nas grandes cidades brasileiras, principalmente nas favelas do Rio de Janeiro.
Saí com irmã Lúcia, algumas vezes para visitar as linhas, estradas que entravam mata adentro, e por onde se tinha acesso aos lotes de mata amazônica, dados aos louros imigrantes do Paraná. Era incrível!
Dentro do convento, muitas irmãs simpáticas se revezavam para que eu me sentisse à vontade no ambiente delas, e olhe que nem católico eu era. Às vezes elas me pediam que tocasse violão e cantávamos todos juntos, depois do jantar. Lúcia tocava e cantava muito bem.
Dentre as irmãs, uma pequena e loura, catarinense era uma de suas melhores amigas. Devia ter uns quarenta ou quarenta e cinco anos, na época. Sua pele muito branca era envelhecida precocemente pelo sol, como costuma acontecer com os colonos do sul, descendentes de europeus.
Não me lembro seu nome, mas numa dessas noites de violão e cantos, ficamos conversando os três, eu, Lúcia e a pequena catarinense. No meio da conversa uma revelação surpreendente. Lúcia me perguntou se eu sabia guardar um segredo, coisa que fiz até hoje, mas não vejo mais sentido em manter.
Feita a promessa, Lúcia me perguntou se eu não achava a pequena freira catarinense parecida com alguém. Depois de contemplá-la com atenção, não consegui me lembrar de ninguém. Então, Lúcia me disse que ela era irmã de Neil Armstrong, o primeiro homem a pisar na lua, em julho de 1969.
Me lembrei das especulações surgidas na época, de que Armstrong teria nascido no Brasil, no interior de Santa Catarina. A revista Veja inclusive visitou o local e fez uma reportagem, mas logo tudo foi desmentido e dado como um equívoco.
Mas realmente a pequena freira era a cara de Armstrong. Então ela calmamente me contou que Armstrong era seu irmão, tinha nascido em Santa Catarina e depois, por motivos que não me lembro, tinha sido levado ainda pequeno para os Estados Unidos, creio que pelo pai, mas que isso não podia ser revelado e que sua família tinha recebido muitas instruções sobre isso, porque o primeiro homem a pisar na lua tinha que ser nascido nos Estados Unidos.
Logo retornei a Brasília e nunca mais soube daquelas freiras.
Hoje vejo por aí muitas histórias de que o homem nunca esteve na lua e tudo teria sido uma grande farsa, como, aliás, todas as pessoas simples e humildes diziam na época. Como saber? Mas pelo menos uma parte da história era mesmo mentira e aquele americano que dizem ter sido o primeiro ser humano a colocar os pés em outro astro, na verdade, nasceu no Brasil.
Abraço a todos
Ricardo Stumpf