Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 14 de agosto de 2011

Rapidinhas 
Com amigos como esses...

     Caramba, mais escândalos nos ministérios ocupados pelos aliados do governo. Agora é no turismo.
     Quem viu aquele ministro octagenário tomando posse viu logo que isso não ia dar certo. Sem nenhum preconceito contra os idosos (já que agora sou um deles), o Ministério do Turismo precisava de sangue novo, inclusive para aproveitar os eventos esportivos (Copa do Mundo e Olimpíadas) pra ver se a atividade deslanchava no Brasil.
     Mas antes mesmo de tomar posse, nosso vetusto ministro já se envolveu em um escândalo, em que pagou com verbas públicas uma farra num motel para alguns "amigos".
     Bom, pelo menos foi o que divulgou a imprensa da época.
     Mas ver policiais federais prendendo um Secretário Geral de um Ministério é uma bofetada em qualquer governo. O pior são as reclamações desses partidos, dizendo que o governo Dilma não sabe lidar com seus aliados... E mais. reclamando que o Ministro da Justiça sabia das operações da Polícia Federal e não fez nada.
     O que eles queriam, que o ministro avisasse os corruptos?
     Com amigos como esses, quem precisa de inimigos?
 
Trem bala neles!


     A oposição não se conforma com o projeto de trem bala entre Rio, São Paulo e Campinas.
     O grande argumento deles é que os Estados Unidos ainda não tem um desse tipo. Então pra que fazer um aqui? Claro, dentro da cabecinha colonizada desse pessoal não podemos ser melhores que os americanos. Temos que esperar eles resolverem fazer um para depois fazer outro por aqui, senão estaríamos afrontando os patrões deles.
     Que coisa!
     Outro dia um colunista desses da Folha da São Paulo, metido a sério, dizia que tínhamos que copiar o programa de economia de combustíveis do governo americano para os automóveis e que nós não estávamos fazendo nada nesse sentido.
     Esquece que há mais de trinta anos temos o pró-alcool, que eles mesmos sempre combateram, porque não havia nada igual no "primeiro mundo".
     Agora ninguém me convence que por trás desta campanha contra o trem bala não esteja o lobby das empresas aéreas, que vão perder muitos passageiros para o trem.
     Espero que esse trem saia logo. E mais. Que ele seja estendido a várias outras capitais brasileiras, nos libertando desse complexo de vira-latas da elite colonizada e dessas empresas aéreas que nos matam de fome e de aperto nos seus voos "econômicos".

Choque de eficiência

     O Governo federal avisa que vai cortar as verbas para os planos de mobilidade para a Copa do Mundo, que não cumprirem os requisitos técnicos econômicos, ambientais e sociais exigidos. 
     Parece que muitos governos estaduais simplesmente não dispõem de técnicos com competência para fazer os projetos e ficam enrolando ou mudando os projetos de acordo com interesses políticos locais.
     Uma pena. Isso é reflexo do hábito de fazer indicações políticas para cargos técnicos. Gente sem formação e sem capacidade, querendo arrecadar dinheiro público para obras faraônicas que depois ficam paradas por anos, como o metrô de Salvador.
     Nossa presidente parece que está sacudindo a roseira e botando as coisas nos eixos.
     Além disso ainda tem a corrupção nos ministérios. Mas disso cuida a Polícia Federal e o Ministério Público. 
     Como diziam os chineses: não importa de que cor é o gato, o importante é que ele pegue o rato!
     
2012

     Pois é, pessoal, parece que o mundo vai mesmo se acabar em 2012.
     Não o mundo físico, ou seja, o planeta Terra, como no filme, mas a civilização como tem sido até agora.
    Ver os cidadãos israelenses fazendo manifestações gigantescas, semelhantes as que acontecem no mundo árabe, pedindo políticas mais justas e democráticas, foi um sinal dos tempos. Além disso, a Europa se revolta contra seus velhos governos e partidos políticos, os Estados Unidos descem ladeira abaixo, sufocados pelo conservadorismo fanático do Tea Party, setor do Partido Republicano que quer fazer a civilização voltar ao tempo das cavernas, conseguindo com isso a façanha de nos libertar das garras do gigante imperialista.
     Parece que estamos vivendo uma nova era de mudanças em que os países vão perdendo sua importância, e a cidadania vai passando a ser um valor universal, por cima de velhos nacionalismos e ideologias ultrapassadas.
     Antes essas mudanças na civilização levavam séculos para acontecer, agora parece que estão se acelerando. Quem sabe em breve seremos um só país neste lindo planeta, numa civilização liberta de guerras, opressões, de mercados e de bancos.
       
Tecnologia e neologismos


     A coincidência de estar lendo um romance do escritor angolano José Eduardo Agualusa (Milagrário Pessoal, editora Língua Geral, Rio de janeiro - 2010) e ao mesmo tempo estar presente em um seminário sobre novas tecnologias de informação, aplicadas à construção civil (Tecnologia da Informação na Construção - TIC-2011), me expôs a um confronto de idéias surpreendente e muito significativo.
     Enquanto no romance os personagens principais, um velho professor aposentado e uma jornalista, mergulham numa busca por neologismos na língua portuguesa, passando por Lisboa, Recife e Angola, referindo-se a outros países da lusofonia (ou da lusosfera se vocês preferem ser mais contemporâneos), e descobrindo outros personagens mais radicais na defesa do idioma português, construído conjuntamente por todos seus quase 300 milhões de falantes no mundo, no seminário de Salvador abundavam neologismos e estrangeirismos, pronunciados por palestrantes com a maior naturalidade, como se todos nós tivéssemos a obrigação de conhecê-los, ou ainda, nos impondo a obrigação de conhecê-los e utilizá-los.
     Impossível não fazer a correlação entre o romance que eu lia à noite e as palestras que assistia durante o dia.
     Enquanto no livro, Agualusa nos brindava com belíssimos trechos como o que descrevo abaixo, falando sobre a importância dos quintais na lusofonia:
          Em Luanda, no Dundo, na Chibia, os quintais foram desde sempre espaços amáveis de convívio e de permuta.
          ...
          Nos quintais, em Luanda, o quimbundo misturava-se com o português. Também no Brasil o quintal foi durante séculos o lugar onde África repousava do esforço escravo. Ali se contavam histórias, cultuavam ancestrais e orixás, e se festejava a vida. Em Salvador, no Recife, São Luis do Maranhão, Ouro Preto ou no Rio de janeiro a nossa língua convivia com os idiomas indígenas e africanos, e era por eles namorada e ampliada.
           Gosto de entrar por esses quintalões antigos, em Olinda ou em Benguela, afagando os cansados muros de adobe, afastando as pesadas folhas de bananeira e a humidade ofegante, para finalmente me sentar no chão, a cabeça encostada ao tronco rugoso de alguma árvore centenária. Um abacateiro. Uma mangueira. Uma figueira. Um pau de fruta pão. Fecho os olhos e logo um vago rumor de vozes ascende da terra negra.
            Os quintais estão cheios de vozes. Para as escutar exige-se disponibilidade de espírito, ou seja, tempo e inteligência, soma de qualidades que nos dias que correm poucas pessoas possuem.
     Em um artigo relativo a implantação da tecnologia BIM na arquitetura (Building Information Modeling) , tema do seminário do qual eu participva, a revista AU afirmava em um dos seus parágrafos:
          Em escritórios de médio e grande porte também é recomendada a presença do "BIM manager", que será o responsável por criar templates, objetos e gerenciar as informações contidas nos softwares. Semelhante ao q-user, ele também deverá se atualizar constantemente para melhorar o uso do software no escritório.
     Me pergunto se tal profusão de estrangeirismos, simplesmente transcritos do inglês para o nosso dia-a-dia é realmente necessária.
     Assistindo às palestras e comunicações do seminário observei como muitos brasileiros residentes no exterior, especialmente nos Estados Unidos, se envaidecem com o uso de termos desconhecidos para a maioria dos brasileiros, que correm para tentar entendê-los e absorvê-los.
     Me entristeço com tal demonstração de colonização cultural. Os que moram fora, orgulhosos de absorver a cultura estrangeira do colonizador e os de dentro, ansiosos para não demonstrarem desconhecimento dos novos vocábulos, como se isso os diminuísse aos olhos da ciência.
     Mas ao atentar para o conteúdo das comunicações outra coisa me chamou a atenção. O palestrante que abriu o seminário, um americano legítimo, disse que devíamos cobrar dos fabricantes de novos programas de computador o atendimento as nossas necessidades, enquanto arquitetos e projetistas brasileiros. Mas os restantes palestrantes brasileiros, ao invés disso, só se preocupavam em demonstrar que estavam adaptados aos programas feitos para a realidade americana.
     A preocupação era sempre a de absorver e se adaptar e nunca de cobrar algo feito para nós.
     Triste postura.
     A excessão, para confirmar a regra, foi a de um grupo de pesquisadores da Unicamp, que mostrou-se muito à vontade em analisar a realidade das faculdades de arquitetura brasileira, desenvolvendo excelente perspectiva de adaptação das novas tecnologias à nossa realidade, sem se preocupar em beijar a mão dos estrangeiros, nem em utilizar estrangeirismos para tentar se legitimar junto a eles.
     Quais serão os arquitetos que produzirão nossa expressão arquitetônica no futuro? Tristes arremedos colonizados ou legítimas expressões da cultura lusófona brasileira? Um prato cheio para o velho professor do romance de Agualusa e uma preocupação autêntica para os que realmente se preocupam em formar novos profissionais em um Brasil que cada vez mais se afirma no mundo com uma expressão própria.