Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 26 de junho de 2011

Rapidinhas


Delícias de Rio de Contas VII


  A fantástica obra de Zofir Brasil

    
 Zofir Brasil foi um artista riocontense, nascido em 1926 e morto em 1990, que produziu uma extensa obra de arte, feita à partir de objetos do cotidiano, de papel marché e até de coisas consideradas como descartáveis, pela maioria das pessoas.
     O que restou de sua obra está guardado em um casarão do Largo do Rosário, no centro histórico de Rio de Contas, esperando por uma restauração e por condições dignas de exposição, mas pode ser visitada, desde que se faça uma solicitação antecipada a Paulo Roberto,  zelador do seu patrimônio. Para encontrá-lo, pergunte a pessoas da cidade e elas lhe fornecerão o telefone dele.
      A família de Zofir Brasil adquiriu com recursos próprios um imóvel, localizado na mesma praça, para instalação de um museu, mas ainda espera pelo apoio de algum órgão público para concretizar este objetivo, pois sozinha não tem condições de montar o museu, o que ameaça a sobrevivência do acervo.     
     Seu trabalho poderia ser considerado precursor da obra de Vik Muniz feita com material reciclável e exposta no filme Lixo Extraordinário (ver comentário abaixo), indicado para o Oscar como melhor documentário em 2011, com a diferença de ter sido feita numa pequena cidade da Chapada Diamantina, no
 interior da Bahia, longe dos olhos da grande imprensa.                                                                       
     O cineasta Walter Salles esteve em Rio de Contas no ano 2000, filmando seu Abril Despedaçado e se impressionou com sua obra, tendo escrito um artigo na Folha de São Paulo, em 01 de setembro de 2001, intitulado O fabuloso Zofir, mas que até hoje, quase 10 anos depois, só está acessível para assinantes da UOL ou da Folha de São Paulo.
     Sua arte dialoga com o público, através de peças interativas, irônicas e críticas.
     Se for a Rio de Contas, não deixe de visitar.

Lixo Extraordinário

     O filme de Lucy Walker mostra o trabalho de Vik Muniz com os catadores de lixo (ou de material reciclável, como eles preferem classificar) do aterro sanitário de Gramacho, na baixada fluminense, periferia do Rio de Janeiro.
     O artista brasileiro, radicado em Nova Iorque, trabalha à partir de fotos feitas por ele dos catadores, para depois remontá-las com o material descartado no aterro, contando para isso com o auxílio dos próprios catadores retratados.
     O filme foi indicado para o Oscar de melhor documentário em 2011 e levanta a questão das condições de vida dos catadores de lixo nos aterros sanitários brasileiros.
     Embora organizados em associações e alimentando toda uma indústria de reciclagem que se instala ao redor dos aterros, esses trabalhadores vivem em condições sub-humanas e revelam que esse discurso de institucionalização dos catadores de lixo, assumido inclusive pelo PT, não resolve o problema, mas o torna permanente. O certo seria tornar obrigatória a coleta seletiva de lixo em todo o Brasil e contratar, via prefeituras ou empresas de reciclagem, os trabalhadores que fazem a seleção do material reciclável, dando a eles todas as garantias trabalhistas, de saúde e de sindicalização.
     Querer que os próprios trabalhadores arquem com essas obrigações através de organizações autônomas (cooperativas) de trabalho coletivo, é negar a eles um direito extendido a maioria dos trabalhadores brasileiros e uma forma muito cômoda de se livrar do problema.
     O filme está sendo exibido no Espaço Ecco, no Setor Comercial Norte de Brasília, dentro de uma exposição do artista plástico. Assisti-lo é uma aventura emocionante por um universo desconhecido para a maioria dos brasileiros. Se puder, não deixe de ver.

O Brasil na Arte Popular

     Esse é o nome da exposição que está aberta até 26 de junho no Museu Nacional, na esplanada dos Ministérios em Brasília (aquele museu que parece uma bola).
     O acervo é do Museu Casa do Pontal fundado pelo artista plastico francês Jacques Van de Beuque, radicado no Brasil e descobridor da obra de Mestre Vitalino, em Pernambuco.  Van de Beuque viajou durante 40 anos pelo Brasil, reunindo um mgrande acervo de arte popular, que deu origem ao Museu Casa do Pontal, no Rio de janeiro.(http://www.museucasadopontal.com.br/museucasadopontal/index.htm).
     A maioria das obras é de artistas nordestinos, embora também hajam peças feitas por artistas do Rio de Janeiro e de Minas, influenciados pela escola nordestina. São peças em barro e madeira, algumas móveis, retratando os tipos e o cotidiano da vida popular brasileira, mostrando a riqueza do imaginário da nosso povo e as suas origens e mitos.
     Vale a pena a visita pela exposição e também para conhecer o museu, mais uma obra de Oscar Niemeyer na Esplanada, que a meu ver, se tornou a maior concentração de obras arquitetônicas de um único arquiteto no mundo..


A volta do elefante

    Em 1990, durante o governo Collor, a direita brasileira iniciou uma violenta campanha pelas privatizações.
Para isso os empresários interessados em se apoderar das empresas estatais usavam um elefante como símbolo do Estado, que segundo eles seria pesado e lento, em oposição às empresas privadas que seriam leves e ágeis.
     Este tipo de campanha surge sempre quando os empresários neoliberais querem se expandir para atividades ocupadas pelo governo e, para quem não se lembra, os governos de Collor e Fernando Henrique Cardoso, entregaram centenas de empresas eficientes e rentáveis aos empresários, que depois as "enxugaram", demitindo milhares de funcionários, e levando muitas delas à falência, como foi o caso da antiga Vasp, pertencente ao governo paulista. Ou então aumentaram o preço dos seus serviços dezenas de vezes, fazendo com que o consumidor pagasse muito mais por serviços muito piores, como no caso das empresas de energia elétrica ou telefônicas (quem não tem queixas contra a Oi?).
     Desde o triunfo do governo Lula não se ouvia mais esse argumento, dado o desastre que foi o governo Collor e também à quase falência que FHC levou o Brasil em 1998, inclusive reprimindo greves e movimentos sociais para beneficiar o capital.
     Agora, talvez apostando no esquecimento e embalados pelo esgotamento da capacidade do Estado brasileiro em investir mais, o que levou o governo Dilma a estabelecer a concessão de alguns aeroportos para a iniciativa privada, eles voltam à carga, trazendo seu personagem principal, o elefante, de volta.
     Interessante observar que isso ocorre no momento em que a Europa vai a falência, justamente por ter adotado o modelo privatista, em que principalmente os bancos privados fazem a verdadeira governança econômica dos países, agindo irresponsavelmente, sem controle nenhum dos cidadãos e levando populações de países desenvolvidos como a Grécia, a Irlanda e Portugal ao desespero, na medida em que querem que o povo pague a conta das suas aventuras empresariais, quando estas fracassam (e sempre fracassam), para salvar...os bancos.
     Então na verdade a coisa funciona ao contrário: é o Estado que dá segurança ao cidadãos e a governança privada quem massacra o povo com o peso das sua irresponsabilidade.

    

A capa da revista Época, que mostra um elefante sentado sobre um ser humano, não deveria ser dedicada ao Estado, mas sim aos bancos e seu representante maior de sempre, o FMI, que estes sim massacram os povos do mundo inteiro.
     Os protestos europeus dizem que não haverá democracia enquanto o povo não controlar a economia e que esta não pode ficar nas mãos de uma minoria que não dá satisfações do que faz, e depois quer que o povo pague a conta. Ou seja, querem um controle maior do Estado sobre os empresários.
     Entenda-se que aqui quando se diz Estado, não se está dizendo simplesmente Governo, mas sociedade civil organizada.
     Então na verdade o elefante são eles e a legenda da capa de Época deveria ser: Bancos S.A.