O Povo do Mar
Existe um povo que vive no meio do oceano, a 500 Km de qualquer coisa, em dez ilhas vulcânicas, em meio a paisagens fantásticas que misturam praias paradisíacas, com a mais agreste natureza composta de rochas e abismos impressionantes.
Eles quase não tem água doce, sua terra é árida, na maior parte, mas são calmos, tem uma veia artística surpreendente e além de tudo são nossos primos e conhecem muito o Brasil.
Falam um português aportuguesado e também uma língua própria, que chamam de crioulo, muito sonora. São gente série e tranquila e conseguem se desenvolver, produzir seu alimento e criar um universo próprio, muito rico e surpreendente. É o povo de Cabo Verde, africanos temperados pelo isolamento no meio do mar e com um toque daquela lusitanidade, que muito mais do que européia é o resultado da amálgama de povos que se contituiu em torno das aventuras portuguesas pelo mundo, constituindo uma personalidade ímpar e da qual, nós brasileiros fazemos parte.
Sua música é de uma delicadeza surpreendente e tem muitos autores e cantores, dentre os quais se destaca a voz majestosa de Cesária Évora, falecida recentemente, cuja imensa foto nos recebe no aeroporto de Mindelo, batizado com seu nome.
São dez ilhas, divididas em sotavento e barlavento.
As de Sotavento são Brava, Fogo, Santiago e Maio. A ilha de Santiago é a maior, onde se encontra a cidade de Praia, capital do país.
As de barlavento são Boa Vista, Sal, São Nicolau, Santa Luzia, São Vicente e Santo Antão. Em São Vicente se encontra a cidade de Mindelo, a segunda maior do país e considerada a capital cultural do País.
As de barlavento são Boa Vista, Sal, São Nicolau, Santa Luzia, São Vicente e Santo Antão. Em São Vicente se encontra a cidade de Mindelo, a segunda maior do país e considerada a capital cultural do País.
Em todas as ilhas, com exceção de Santa Luzia, que é desabitada, existem muitos pequenos povoados em situações muito diferentes. Alguns se encontram ao nível do mar, em planícies, outros no alto das majestosas montanhas que se erguem no meio das nuvens.
A Ilha do Fogo vista ao longe, desde a parte alta da Ilha de Santiago
Na Ilha do Fogo um vulcão ativo se ergue a quase 3.000 metros de altura. Na de Santo Antão outro vulcão, esse extinto, tem sua cratera a quase 1.800 m. dentro da qual brota a água, líquido precioso para os caboverdianos, e onde se pratica a agricultura.
A cratera de um vulcão extinto na Ilha de Santo Antão, a 1.800 m de altitude.
Em uma semana de permanência, visitamos apenas as ilhas de Santiago, São Vicente e Santo Antão.
As cidades são pequenas, comparadas com as nossas, muito simpáticas e bem arrumadas. Viajando pelo interior, nos deparamos com os vilarejos, cheios de vida e charme.
Santiago
Assomada é a maior cidade do interior de Santiago. Lá encontrei uma praça com a estátua de Amilcar Cabral (à direita), considerado um herói caboverdiano e um grande líder africano e um homem que disse ser filho dele, posou comigo para a foto (à esquerda).
Era sábado, dia de feira, e as ruas estavam cheias de gente fazendo compras, exatamente como no interior do Brasil. Parecido com a minha Rio de Contas, na Bahia, com a diferença dessa africanidade linda, que se expressa nas roupas, nos modos de falar e nas características físicas de seus habitantes.
Para quem procura praias, Santiago tem uma linda, que fica no norte da ilha e parece cenário daqueles filmes de piratas. Aliás a ilha foi alvo de muitos ataques de piratas, principalmente ingleses e franceses.
O famoso Francis Drake, que agia a mando da Inglaterra, apesar de ter sido condecorado com o título de Sir, pela rainha, foi um bandido da pior espécie e atacou a ilha duas vezes. Ele era traficante de escravos e pirata (corsário).
O mar em tarrafal
Essa praia é Tarrafal, onde o mar é calmo e incrivelmente azul, permitindo um banho tranquilo. Lá se encontram bons restaurantes também para um almoço de frutos do mar e para saborear uma cerveja, a Super Bock, portuguesa (ótima), a Sagres, também portuguesa e a Strela, caboverdiana.
São Vicente
São Vicente também tem duas praias famosas: a de São Pedro (à esquerda), onde se localiza o aeroporto da ilha e a da Baía das Gatas (direita), onde se realiza um festival internacional de música, todos os anos.
A capital de São Vicente, cidade de Mindelo, tem uma baía linda (à esquerda) e surpreende por ser pequena e aconchegante. No centro, encontramos alguns exemplos de edifícios da época colonial (o país ficou independente em 1975) e da influência européia do séculos anteriores, como o museu de Mindelo (acima à direita) e outros mais contemporâneos onde cores fortes surpreendem o observador.
Há bons restaurantes e agências de turismo para fazer passeios por toda a ilha.
Santo Antão
Das três ilhas que visitei, Santo Antão é a mais supreendente pela natureza.
O ferry boat sai de Mindelo as 8 da manhã e leva uma hora na travessia, até chegar a Porto Novo, pequena cidade pesqueira em Santo Antão. Os visuais da travessia são incríveis, tanto da ilha de São Vicente (à esquerda) quanto da de Santo Antão (direita).
Porto Novo (abaixo à esquerda) é uma cidade nova, situada na planície costeira. Mas a surpresa vem quando se atravessa a ilha, pelo grande maciço que se ergue a quase 1.800 metros de altura. Povoados (à direita) no meio da montanha coberta de nuvens nos transportam para outro universo, onde vamos margeando abismos gigantescos por uma estrada de pedra que parece a muralha da China, até atingir uma travessia com abismos dos dois lados, chamada de Delgadin, onde olhar para baixo provoca vertigens.
Delgadin: abismos dos dois lados.
Mas a surpresa maior ainda está por vir, ao chegarmos ao outro lado da montanha. A paisagem árida dá lugar ao verde de florestas de pinheiros. Esta parte de arquipélago recebe ventos úmidos e os represa, permitindo o desenvolvimento da agricultura. Enquanto o sul da ilha é quente e seco, o norte, do outro lado é mais frio e no seu litoral rochoso se incrustam pequenas cidades entre a pedra e o mar, como Ribeira Grande (à esquerda) e Paúl, (à direita), redutos de agricultores, que cultivam vales gigantescos (abaixo à direita), e pescadores.
O turismo de trilha e a pesca submarina (veja escultura abaixo à esquerda) também estão se desenvolvendo fortemente nessas áreas.
Ao ver os vales rochosos cobertos de plantações me lembrei com uma certa amargura, do deboche de certas pessoas em Rio de Contas quando me viram plantar uvas no meio das pedras, mal acostumados que estão às terras férteis que abundam no Brasil. Gostaria muito que eles vissem como esse povo, literalmente, tira leite das pedras, com suas plantações em platôs e suas criações de cabras. O mal do Brasil é que estamos acostumados com a fartura e não sabemos tirar proveito dela. Apesar do meio ambiente hostil e da ausência de recursos, vi pobreza, mas não vi miséria como vejo entre nós. Uma lição para os que vivem se queixando de dificuldades.
Os caboverdianos tem apenas 37 anos de independência, e já conseguem vislumbrar o progresso e o desenvolvimento, com os poucos recursos de que dispõem. É um povo muito interessante, que vive no meio do mar, num lugar que vale a pena conhecer.
Como o voo sai de Fortaleza direto para Cabo Verde, as agências de viagens brasileiras parecem não ter despertado ainda para o turismo neste país. Procurei em várias, em Brasília e na Bahia, e as pessoas nem sabiam onde fica Cabo Verde (em uma me perguntaram se Cabo Verde era em Minas Gerais). Por isso o melhor é comprar direto na agência de Fortaleza.
Para quem desejar maiores informações, recomendo procurar Sara Campos, (LSC Turismo, Rua Dr.Thompson Bulcão 523 SL 07, Fortaleza-Ce, Cep 60.810.460, Fone:85 3061 2265 / 87872684), que nos vendeu as passagens aéreas pela TACV e fez as reservas nos hotéis, onde fomos muito bem atendidos e tudo correu sem nenhum problema.
Ouça abaixo, Cesária Évora cantando com Caetano Veloso a música Regresso, feita sobre a poesia de Amilcar Cabral, que publiquei na edição passada deste blog.
E ainda Cesária Évora e Marisa Monte, cantando É doce morrer no mar, de Dorival Caymmi e Jorge Amado
http://www.youtube.com/watch?v=9NWC1rEPMbE