RIO DE CONTAS: A CULTURA ABANDONADA III
PRODUTORES CULTURAIS
Prezado amigo leitor, na sequência das entrevistas sobre a cultura riocontense, publicamos hoje a entrevista com Carlos Landulfo, mais conhecido como Kal da Rádio.
Kal é o âncora da rádio comunitária de Rio de Contas, prestando inúmeros serviços à comunidade. Fizemos a ele duas perguntas: a primeira foi a mesma feita aos entrevistados anteriores: O que você acha da situação atual da cultura em Rio de Contas?
Acho que antes existiam mais manifestações culturais do que hoje. Tinha a Marujada, Terno das Africanas, a Festa da Primavera e havia também casas de candomblé, que desapareceram. Isso mais pelo lado da cultura negra.
Ainda existem cantores na cidade, sem incentivo, sem produção e sem capacitação, enquanto os poucos professores de música são mal remunerados.
Quando os cantores locais são contratados para algum evento é disponibilizado para eles, o pior som e o pior palco, sendo que ainda recebem menos que os artistas de fora. Muita gente que tocava em ternos de reis trocou o terno por um teclado, para ganhar mais.
Temos o Terno de Reis da Várzea, o do Pirulito e o de João de Lúcia, que não quer mais sair por ter sido discriminado (chamado de jegada, que é outra coisa).
Muita gente chega aqui, filma as manifestações e depois some. Os artistas daqui já ficam desconfiados, pois não sabem o que vai ser feito com as imagens, se vão ganhar dinheiro em cima da imagem e da arte deles.
As domingueiras foram um fracasso, em termos de produção. Tudo improvisado e sem qualidade.
Seria necessário fazer um levantamento das manifestações culturais do município, separando o que é folclore, do que é cultura viva, o que é arte do que é artesanato.
Folclore é cultura parada no tempo, serve mais para que as pessoas se reconheçam, uma coisa de identidade mesmo, embora muito bonita e festiva. Cultura viva é arte contemporânea, em movimento constante. As duas tem que ser estimuladas.
Artesanato é habilidade repetitiva. Arte é criação. As duas atividades são importantes e tem que ser incentivadas. A verdade é que não existe cultura sem apoio, sem incentivo, sem financiamento.
Veja a Rádio Comunitária: nós gastamos muito para legalizar a rádio e hoje concorremos com uma rádio comercial, não recebemos nenhum incentivo do governo federal, estadual ou municipal, para nos manter, ao contrário, vivemos prestando serviços gratuitos para o governo local e para a sociedade. Por isso não podemos manter uma programação de melhor qualidade, porque precisamos faturar comercialmente para cobrir os custo de manutenção e temos que trabalhar para todos os públicos.
A segunda pergunta foi:
Você tem uma produção de documentários, batalhou e conseguiu o cinema digital para a cidade (que ainda não foi instalado). Você acha que temos condições de criar um pólo de produção de cinema, documentários e animação, em Rio de Contas?
Não falta talento. O que falta é incentivo, estrutura.
Temos atores, atrizes, músicos, roteiristas, compositores... O que falta é um espaço. O Teatro está todo esbagaçado, sem som e iluminação. Temos inclusive um filme feito aqui, no ano passado, para as eleições. Foi uma experiência muito positiva. Deveríamos ter cursos de arte e música. Para implantar um pólo de cinema seria preciso aprimorar os artistas e técnicos locais. Faltam cursos de arte em geral.
Sobre essa polêmica entre carnaval tradicional e axé, sou a favor da diversidade musical, mas com controle de qualidade.O carnaval é o único momento em que vejo os músicos de Rio de Contas tocando, embora ganhando muito menos (e sempre os últimos a receber).
Mas ainda acho que um carnaval diferenciado atrairia um outro tipo de turistas e daria mais renda para a cidade. Um carnaval mais tranqüilo, com mais cor e mais máscaras.
Eu apóio a criação de uma Secretaria de Cultura.
(Kal é presidente da Associação Comunitária Idéias e Ações dos Nativos de Rio de Contas. É conselheiro eleito e atuante do Conselho Tutelar, comunicador da Rádio Rio de Contas FM e também produtor de documentários)
Abraço a todos
Ricardo Stumpf