Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 24 de outubro de 2010

Rapidinhas

    Bolinhas de papel
    
     Quem diria que chegaríamos a este ponto, José Serra simulando agressões numa tentativa desesperada de virar as pesquisas eleitorais a seu favor, tentando transformar uma bolinha de papel num rolo de fita adesiva, com a ajuda da TV Globo.
     E se fosse um rolo de fita adesiva, que prejuízos poderia causar na sua careca um objeto tão simples? E no outro dia lá estava ele fazendo campanha sem nenhuma cicatriz na cabeça, nem uma marquinha.
     E tudo é culpa do PT, numa tentativa inútil de demonização deste partido, que já está beirando o ridículo.
     Mas o pior é a ajuda recebida da rede de televisão da família Marinho, que já tem tradição em dar golpes eleitorais para impedir que candidatos que representem o povo assumam o poder. Pra quem não se lembra, o último debate de 1989, editado para favorecer Collor numa eleição apertada como esta e o escâncalo Pró-Consult, no Rio de Janeiro, em 1982, para impedir Brizola de assumir o governo do Estado do Rio, ambos patrocinados pela Globo.
     Vem aí o último debate que, como sempre, será na Globo. Preparem-se para mais tentativas de manipulação.
     Não está na hora de mudar esse modelo de concessão das comunicações às famílias mais poderosas do Brasil e construir um modelo mais democrático, já que os canais pertencem ao governo, ou seja, à nós?

     Dados fiscais violados

     Ainda sobre a eleição, é incrível o notíciário na grande imprensa, sobre a violação dos dados dos tucanos na Receita Federal. O jornalista Amaury Ribeiro Jr., que trabalhava no jornal O Estado de Minas, de Belo Horizonte, pagou para um despachante violar o sigilo da filha de José Serra e de outros tucanos, antes do período eleitoral, para defender Aécio Neves, como ele mesmo declarou, .
     Aparentemente, Aécio se preparava para uma guerra de bastidores contra o venenoso José Serra, já que os dois pretendiam ser candidatos a presidência da República, e queria se prevenir guardando dados sigilosos das possíveis falcatruas cometidas pela filha de Serra e seu marido.
     Os dados não foram usados por ninguém para fazer o que os tucanos gostam de chamar de dossiê, ou seja, ficaram lá, guardadinhos, à espera de uma oportunidade para serem usados contra o candidato paulista, mas não foram.
     Então o único crime perpetrado foi a violação do sigilo fiscal, à mando do jornalista mineiro.
     O que o PT tem a ver com isso? Nada. Mas o esforço em ligar o episódio ao PT beira as raias do ridículo. Na edição de 22 outubro, o jornal O Estado de São Paulo, afirma que Amaury Ribeiro teria ficado hospedado num flat emprestado pelo deputado estadual Ruy Falcão, do PT, e que portanto este deputado poderia ter roubado os dados do seu computador, num momento em que ele se ausentou, já que também tinha a chave do apartamento. Quer dizer, o cara paga para alguém roubar os dados, confessa, e quer botar a culpa em alguém que lhe emprestou o apartamento? Que sentido faz isso?
     Mais adiante, na mesma reportagem afirma que o dinheiro foi pago ao despachante na mesma agência em que um participante da campanha de Dilma tem uma conta. Ora, meus amigos, então todos os outros correntistas desta agência devem ser imputados como suspeitos, porque o pagamento foi feito lá?
     O fato é que foi Amaury Ribeiro Jr. quem cometeu o crime para defender Aécio Neves, segundo suas próprias declarações. O PT nunca usou essas informações e não tem nada com isso e o esforço para imputar ao partido de Dilma, às vésperas do segundo turno, esse crime cometido por eles mesmos não passa de tentativa grosseira de manipular a opinião pública, em mais um lamentável episódio de irresponsabilidade do PIG (Partido da Imprensa Golpista).
     Até quando vamos ter que aturar isto?


Crimes de guerra americanos no Iraque

     O site Wikileaks revelou nesta sexta-feira mais 400 mil documentos secretos dos Estados Unidos sobre a guerra no Iraque, desvendando a verdadeira face daqueles que invadiram um país soberano, contra as recomendações das Nações Unidas e massacraram seu povo, em nome de uma pretensa democracia.
     O governo americano ainda não se pronunciou sobre esse novo vazamento, embora já tenha sido cobrado pela ONU e pela Anistia Internacional para que investigue todas as pessoas envolvidas nos incidentes relatados.

     Veja o que o site Operamundi revelou hoje a respeito:
Wikileaks: Militares dos EUA mataram 680 civis iraquianos em postos de controle
     Militares americanos mataram 680 civis iraquianos inocentes, sendo 30 crianças, em postos de controle no país árabe, pelos documentos divulgados pela organização WikiLeaks em seu site.
     Os militares, que tinham recebido ordens de disparar contra todo veículo que não parasse nesses controles, mataram quase seis vezes mais civis do que insurgentes. Segundo os sobreviventes de alguns desses incidentes, as tropas americanas abriram muitas vezes fogo sem aviso prévio.
     Em 14 de junho de 2005, marines americanos dispararam contra um veículo no qual viajavam 11 civis que não parou em um controle de Ramadi ao oeste de Bagdá. Nesse incidente morreram sete pessoas, incluindo duas crianças.
     As forças da coalizão que invadiram o Iraque foram também acusadas de excessos nos ataques com helicópteros.
     Na sexta-feira (22/10), a imprensa internacional noticiou que os documentos sobre a guerra informariam que os Estados Unidos tomaram conhecimento, mas não investigaram alguns casos de abusos e torturas cometidos por soldados e policiais iraquianos contra presos.

     Barack Obama, que assumiu promtendo dar um fim em tudo isso, parece estar diretamente envolvido na operação para acobertar os crimes de guerra americanos.
   Hora de avançar

     Pois é, prezados leitores, a radicalização na reta final desta campanha, coincidindo com as greves na França e em outras partes do mundo,  está me fazendo lembrar os idos de 1968, quando as massas populares começaram a ir para as ruas no mundo inteiro, em uma série de movimentos paralelos, cuja única conexão parecia ser o interesse em dar fim a uma ordem estabelecida no pós-guerra, onde o poder tinha sido partilhado por poucos em benefícios de poucos, em nome da moral, da família, da religião e da ideologia.
     Naquela época, uma mudança se fazia necessária e as forças da mudança se chocaram amplamente com as forças da ordem, numa escala planetária, que teve como consequência o mundo em que vivemos hoje. E não é pouca coisa.
     Em termos morais, as mulheres reivindicavam o direito a uma vida sexual plena e livre, como os homens, e dispunham da pílula anti-concepcional como arma para garantir que sua liberdade sexual era possível.
     Horror entre as famílias tradicionais que achavam que as mulheres tinham que casar virgens ou os homens não as aceitariam. Mas o amor livre era a palavra de ordem revolucionária.
     Na França estudantes se rebelaram contra uma reforma universitária, mas na verdade a revolta era contra a quinta república, de Charles De Gaulle, que significava o domínio das famílias e das idéias tradicionais, sobre a sociedade, que reivindicava uma democracia de massas, onde a cultura se libertasse da caretisse de uma elite conservadora e opressiva, que além de sufocar os desejos dos jovens mantinha os operários e seu movimento sindical emparedados, como se fossem marginais, ao reivindicar o direito de viver e consumir como os ricos e a classe média o faziam.
     No Brasil o protesto era contra uma ditadura que, em nome da liberdade, no tirou todos os direitos e vendeu o país aos americanos. Nos Estados Unidos era contra a guerra do vietnã e sua lógica destruidora de povos, em nome de uma luta ideologica e também contra o racismo, que mantinha os negros excluídos.
     Na Tchecoeslováquia lutava-se contra o domínio soviético e sua ditadura do proletariado, construída também em nome de uma ideologia que começava a fazer água por todos os lados.
     O mundo estava cansado, queria respirar e conseguiu. 
     De Gaulle caiu, a liberdade sexual feminina triunfou, a guerra do vietnã acabou, com a derrota dos americanos, as ditaduras latino-americanas caíram, assim como as ditaduras do leste, a União Soviética desapareceu e a América Latina se levantou, a democracia de massas se consolidou, os negros se libertaram do apartheid dentro e fora da África.
     Em poucas décadas muita coisa mudou, mas nem tudo.
     Os conservadores resisitram como puderam. Na década de 90, introduziram o neoliberalismo no vácuo ideológico do comunismo e começaram a tentar recuperar terreno, reduzindo os direitos conquistados. A resistência, porém, se deu dentro do jogo democrático. O mundo estava cansado de revoluções.
     O imperialismo americano sobreviveu, enfraquecido pela ausência de um rival que justificasse suas guerras de conquista. Na parte mais atrasada do mundo a luta se reacendeu, entre o fanatismo religioso islâmico e os interesses capitalistas. Mas o extremismo religioso caminhou na direção contrária da história, tirando direitos das mulheres, implantando ditaduras teocráticas e recorrendo ao terrorismo puro e simples, se aproximando mais da direita que das correntes libertárias.
     Do lado de cá, no entanto, a democracia nos garantiu alguns avanços. Um operário governou o Brasil, um índio governa a Bolívia, um negro governa os Estados Unidos, embora ainda estejamos longe de nos libertarmos do domínio das grandes corporações capitalistas.
     Agora a direita tenta avançar mais um pouco, retomando iniciativas cujo único propósito é reafirmar seu domínio político para explorar os pobres em benefícío de poucos, sejam eles religiosos no Irã, empresários no Brasil ou militares em Honduras e Equador.
     A direita é sempre contra a democracia, embora fale em nome dela. A direita é sempre contra a expansão dos direitos, embora fale em ordem e progresso.
     Mas do lado democrático o cansaço das revoluções também parece que vai se dissipando e os povos novamente se levantam para lutar por mais direitos. Na França luta-se contra a reforma da previdência, no mundo inteiro pelos direitos dos gays, nos países islâmicos, pelo direito a se libertar da opressão israelense, sempre apoiada pelos americanos, e pela fundação do Estado Palestino.
     E no Brasil enfrentamos uma contra-ofensiva da direita que pretende retomar o poder para nos reduzir novamente à submissão, instituir o desemprego em massa e vender o país ao velho e decadente imperialismo americano. Lutamos contra um modelo de imprensa, onde a comunicação está nas mãos das famílias mais influentes e poderosas, aliadas do grande capital, para que dominem a mente do nosso povo, implantando como um chip nos seus cérebros, as idéias que lhes interessam, os hábitos de consumo que os enriquecem, em detrimento da saúde do povo e do planeta.
     Lutamos todos também por um novo modelo econômico, que não destrua, mas preserve nosso planeta Terra, onde queremos que nossos descendentes continuem a viver por muitos milênios.
     Creio que 2010 foi um ano de semeadura e 2011 será um ano de abertura. Abertura de novas idéias, de novas realidades que se descortinarão aos poucos, em meio aos conflitos entre as forças da mudança e as que querem que o mundo ande para trás, no embate dialético que a cultura humana sempre experimenta, testando novas hipóteses, construindo novas utopias, que vão moldando o futuro e mostrando o caminho.
    
    Boa segunda-feira à todos.

    Ricardo Stumpf Alves de Souza