Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 26 de dezembro de 2010

Rapidinhas

Loteamento da Dilma

     Ficou pronto o loteamento da Dilma. Os lotes foram distribuídos para atender aos apadrinhados, aliados, aos interesses fisiológicos e corporativos. Nenhuma indicação de uma direção nova no governo do Brasil. Nenhuma pista de um rumo novo para a nação, de alguma iniciativa para melhorar a saúde, a educação ou o meio ambiente. Apenas uma festa entre amigos.
     Aqui em Brasília muito se vê e muito se comenta de que esse seria um Ministério de Transição. Nunca vi isso. Um governo assumir prestando contas ao que sai. Geralmente é o contrário. Enquanto isso a choldra comemora o consumo irresponsável, que elevou o país a quarto maior consumidor de automóveis do planeta. O aquecimento global? Coisa de gente chata. Vamos comemorar e consumir galera! Emprego novo, salários triplicados na esplanada e por todos os governos estaduais e municipais do Brasil. Feliz Brasil Novo!

Viva a Palestina

     Depois de Brasil, Uruguai e Bolívia, o Equador reconheceu a independência da Palestina nas suas fronteiras anteriores a 1967. Mais uma vitória para o povo palestino, oprimido por mais de 4 décadas de ocupação israelense-americana, que aos poucos vai tentando criar um fato consumado  com a construção ininterrupta de colônias israelenses nos territórios ocupados, para uma futura anexação ao Estado de Israel.
     Anexação de um país por outro é um termo que não se ouvia mais desde Hitler. Engraçado como a história dá voltas, não é mesmo?  
     Os próximos sul-americanos a reconhecerem a Palestina devem ser Paraguai e Chile, reafirmando a inserção soberana da América Latina na política internacional, abandonando a hegemonia norte-americana no setor. Mérito da integração econômica e política latino-americana que vai deixando para trás séculos de submissão e de dominação econômica para se alçar a território de importantes decisões mundiais.

A lição de Alencar

     É impressionante a capacidade de resistência do nosso atual vice-presidente, José de Alencar. Sua atitude positiva frente à doença que o acomete a tantos anos é a única explicação para sua incrível capacidade de reabilitação, que sempre surpreende os médicos.
     Sem dúvida uma lição para muita gente que vive se queixando de problemas e desiste ao primeiro sinal de dificuldades. Que sua atitude sirva para todos nós, brasileiros, nas nossas vidas, para que saibamos lidar com nossos dissabores e agradecer pelas oportunidades que temos, principalmente a oportunidade de ter uma vida e saber dar valor a ela.

Socialismo Ecológico

     Enrique Leff, um economista mexicano, apresenta, numa entrevista ao site OperaMundi, uma visão lúcida sobre a relação entre a economia e a destruição da natureza.
     Leia abaixo:

    
Histórias de outras vidas (35)

   Araripe

     O lugar? Araruama. O ano? Talvez 1956 ou 57.
     Pra quem não sabe, Araruama é um município no litoral norte do Estado do Rio, cuja sede se situa às margens de uma imensa lagoa salgada, do mesmo nome. Nessa época, a Lagoa de Araruama ainda era cheia de salinas, com seus diques rasos e seus cataventos.
     Passávamos dois ou três meses por ano por lá, nas férias de verão, enquanto meu pai permanecia trabalhando no Rio, indo ao nosso encontro nos finais de semana.
     Nossa casa ficava na saída para São Vicente, em meio a um coqueiral. Os constantes ventos nos livravam de qualquer praga de mosquitos e passávamos dias maravilhosos naquela pequena chácara, de mais ou menos um hectare, onde tínhamos um cavalo e uma charrete, que nos levava aos banhos na lagoa.
     Minha mãe tinha parentes por lá, uns primos, o que nos dava um suporte familiar naqueles dias em que ficávamos longe de meu pai.
     Pois justamente esses parentes é que nos apresentaram Araripe. Ele era engenheiro naval e trabalhava em Niterói, nos estaleiros que já haviam por lá. Os estaleiros fluminenses são muito antigos e tem uma tradição que remonta à época da colônia.
     Naquela época não havia a ponte Rio-Niterói e quem trabalhava do outro lado da baía de Guanabara, precisava morar por lá mesmo. De Niterói a Araruama eram apenas 80 Km, pela antiga rodovia Amaral Peixoto, uma faixa estreita de asfalto precário e esburacado.
     Araripe tinha uma casa de veraneio em Araruama, para onde, suponho, fugia nas suas folgas, já que naquela época Niterói não apresentava grandes atrativos. Mas não era uma casa qualquer.
      Sendo um solteirão, de cabelo cortado à escovinha, como se dizia, típico dos militares, ele se dedicava a inventar coisas, que até hoje me parecem incríveis, e que eram mais incríveis ainda para a época, no atraso em que vivíamos no Brasil.
     Foi com ele que andei pela primeira vez num fusca. Era um daqueles primeiros modelos importados no pós-guerra, com duas janelinhas traseiras. Nos mostrava orgulhoso o engenho alemão com motor traseiro refrigerado a ar: uma novidade.
     Foi nesse modelo antigo dos primeiros volkswagens, que fui visitar sua casa, com minha mãe e uma prima. Me lembro que era uma rua larga, de areia, como quase todas na cidade, e que ficava ao final, à direita. Paramos em frente a um galpão, que mais parecia um depósito. Ao entrarmos: surpresa! Não havia nada. Apenas um chão liso e vazio com um banheiro e uma cozinha. 
     Araripe então apontou para o teto, onde pudemos observar muitas coisas estranhas. Estruturas metálicas e engrenagens, junto com alguns painéis de madeira. Depois foi para uma parede, onde havia uma espécie de painel de controle e começou a apertar alguns botões.
     De início acionou os painéis de madeira, que para surpresa minha foram descendo e se inclinando até se tornarem as paredes internas da casa. Em minutos, o galpão vazio, tinha sala e quartos. Depois, acionando outros botões, começaram a brotar os móveis das paredes, camas e mesas com cadeiras, se desdobravam, como por encanto, e em minutos a casa estava mobiliada.
     Claro que os móveis eram todos presos entre si e não se podia arrastá-los.
     Araripe ria do nosso espanto. Depois acionou novamente os botões e os móveis se recolheram para dentro das paredes e as paredes subiram novamente, deixando o espaço vazio de antes.
     Parecia coisa de filme americano.
     Algum tempo depois ele resolveu fazer um carro. Desmontou um velho ford 1929 e remontou-o, com muitas partes novas fabricadas por ele mesmo, dando origem a uma especie de jipe, muito simpático. Mas aí teve um problema: na hora do emplacamento a prefeitura exigiu que ele declarasse a marca do veículo. Como ele mesmo era seu criador, inventou uma marca que não foi aceita. Então os técnicos do departamento de trânsito local, fazendo uma inspeção detalhada no veículo, concluíram que a maioria das peças era fabricada pela Ford, e que por isto, esta marca prevalecia. O jipinho foi registrado como um Ford e foi exigido que ele fosse identificado como tal. Não se conformando com essa decisão, Araripe inverteu as letras na dianteira e batizou o seu carrinho de DORF, com o qual circulava alegremente pela cidade.
     Em 1960, nos mudamos para Brasília e nunca mais soube dele, mas até hoje me lembro da sua capacidade inventiva e tecnológica, tão pouco estimulada no Brasil.
     Quamtos talentos como ele não se perderam e ainda se perdem por aí, num país ainda submetido a interesses estrangeiros, que não querem nossa emancipação tecnológica?
     Até hoje não temos uma marca nacional de automóveis. A única que tivemos, a Gurgel, fechou em 1986 e já fabricava carros elétricos que agora são apresentados como novidade por aqui.
     Quando teremos uma verdadeira política industrial que incentive a inovação e estimule a criação de marcas nacionais, ao invés de montar, sob licença, produtos desenvolvidos no exterior? Até lá, quantos Araripes viverão no anonimato por aí, brincando de fazer suas invenções em casa?

Boa segunda-feira à todos

Ricardo Stumpf Alves de Souza