O Paiz
Privatizações x Concessões
O governo Dilma vem lançando uma série de pacotes de concessões, como forma de relançar a economia, atingida pela crise dos países ricos. Primeiro foram alguns aeroportos, que precisavam ser redimensionados para receber os turistas da Copa de 2014 e para aguentar o aumento do tráfego interno de passageiros, que vem crescendo rapidamente.
Depois seguiu-se uma nova rodada de concessões, envolvendo ferrovias, rodovias, portos e mais aeroportos, todas baseadas na lei de parcerias público-privadas (PPPs), aprovada durante o governo Lula.
O PSDB apressou-se em dizer que o PT havia se rendido às privatizações, mas foi logo rebatido pelos petistas e pelo governo, que alegam que conceder não é privatizar, já que a propriedade permanece sendo pública, apenas sendo dada uma concessão de uso por tempo limitado, para suprir a falta de recursos para investir na infraestrutura, que o Brasil precisa modernizar urgentemente.
Esta semana recebi da minha amiga Lilian Brower Gomes, uma análise sobre as concessões feitas pelo governo francês, ela que mora na França há tanto tempo, criticando este modelo, críticas que reproduzo abaixo:
Aqui na França o resultado desse sistema de concessões é uma verdadeira catástofre que retira integralmente do Estado qualquer tipo de lucro, o torna dependente do dinheiro privado para a prestação de serviços ao público. Sem falar do roubo do dinheiro da população pois toda essa parte do financiamento à esfera privada vem do dinheiro público. A Sonia Rabelo mostrou isso muito bem com a história da concessão à General Motors de uma parte até agora preservada do Rio de Janeiro. Em geral aqui na França o Estado constrói as pontes e as rodovias com o dinheiro do contribuinte e depois faz as concessões para as empresas privadas que oferecem empregos precários com péssimas condições de trabalho. No caso da inglaterra deixaram a infra estrutura ferroviária se deteriorar até que o Estado fosse obrigado a retomar as rédeas, reinvestir para poder garantir um mínimo de serviço de transportes ao público....para depois fazer uma nova concessão. A empresa de trens da França era realmente ótima. Trens que respeitavam os horários, limpos, empregos sólidos. A parte do frete permitia arcar com a falta de rentabilidade do transporte de passageiros e garantir um serviço público de transportes de qualidade. Com os acordos da OMC o Estado foi obrigado a privatizar a parte de frete ferroviario, a dar em concessão sua infraestrutura feita com dinheiro público para empresas privadas que só exploram os trajetos rentáveis. Quem vai garantir os trajetos necessários ? Com que dinheiro ?
Esse debate entre público e privado já vem de um tempo, desde o desmonte das economias estatais do bloco socialista, na década de 1990, e embora o modelo neoliberal esteja numa crise profunda, os principais países capitalistas e os agentes financeiros internacionais controlados por eles, como o FMI, o Banco Mundial e a própria Organização Mundial do Comércio, citada por Lilian, continuam a exigir que os governos implementem essas reformas privatizantes, para que recebam aportes financeiros.
Qual é a lógica de tudo isso? Já não vivemos mais uma disputa ideológica entre capitalismo e socialismo, como no tempo da guerra fria, mas a essência desses dois sistemas parece subsistir nas disputas travadas entre as políticas econômicas implementadas pelo bloco dos países capitalistas, até pouco tempo chamado de centrais, (Estados Unidos, União Européia e Japão) e os países agora chamados de emergentes, dentre eles os chamados BRICS (Brasil, Rússia, India, China e África do Sul).
A diferença entre as políticas está no controle das políticas públicas, que no caso da Europa, EUA e Japão, permanece nas mãos do mundo corporativo (o grande capital), que decide os destinos da economia, como um governo invisível, enquanto nos emergentes está nas mãos do Estado. Então não se trata mais de privatizar ou estatizar, mas de impor à sociedade uma lógica que privilegia os interesses das grandes corporações ou sujeitar os interesses dessas corporações aos interesses do Estado, que teoricamente representa suas populações, ou seja, a cidadania dos seus países.
No Brasil, as privatizações promovidas pelo PSDB foram realmente alienações do patrimônio público, objetivando entregar ao mundo corporativo, ou ao que eles gostam de chamar de mercado, a lógica que moldaria a própria sociedade. As concessões feitas pelo PT, parecem se pautar pelo modelo do capialismo controlado pelo Estado, ou seja, usa-se o dinheiro das corporações mas mantém-se a lógica que regula a sociedade nas mãos da cidadania.
É claro que esse segundo modelo tem seus riscos, como bem define o comentário da minha amiga Lilian, pois a lógica pode acabar se invertendo, na medida em que o Estado comece a depender desses capitais para sobreviver, ou até para financiar certas campanhas eleitorais.
É realmente o caso de se abrir esta discussão, para que ela se torne mais clara para o grande público.