Por Ricardo Stumpf Alves de Souza

domingo, 29 de julho de 2012

Reformulação do blog

O Paiz

     Prezados leitores. Depois de quase 5 anos de divulgação deste blog, estou introduzindo algumas modificações para torná-lo mais atrativo e agradável.
     Para isso, além das mudanças no lay-out, passarei a publicar uma "coluna", intitulada O Paiz, assim mesmo com Z no final, na qual serão comentados assuntos de interesse nacional, sendo mantidos as já tradicionais Rapidinhas e o artigo de fundo.
     A razão deste nome está no antigo jornal O Paiz, do Rio de Janeiro, fundado no século XIX, e que foi uma tribuna importante na luta pela abolição e pela República, tendo sobrevivido até 1930, quando foi empastelado (foto acima) pelas forças vitoriosas da revolução de 30.
     Seu último proprietário e articulista, foi meu tio-avô, Antonio Augusto Alves de Souza, que, com o advento da ditadura getulista, teve que se exilar na Europa.
     A tradição do jornalismo, no entanto, permaneceu na família, através de meu irmão e de meu filho, embora nenhum dos dois assine o sobrenome Alves de Souza, herdado de meu pai. Dois filhos e um neto de Antônio Augusto, foram arquitetos como eu, sendo que o neto arquiteto se tornou um artista plástico famoso. Assim, o jornalismo e a arquitetura vem se misturando há gerações no seio dos Alves de Souza.
     Do meu tio-avô sei apenas as histórias que meu pai contava. Sei que era paraense, como meu avô, e que publicou alguns poemas na sua juventude, depois indo morar no Rio de janeiro, onde se tornou o jornalista famoso
     Meu avô, João Alves de Souza, foi advogado e morreu de tuberculose, doença fatal na época, tendo passado seus últimos dias na cidade mineira de Sabará, por recomendação médica.
     Meu pai, tendo ficado órfão (sua mãe morreu quando ele tinha apenas 3 anos, de gripe espanhola), pegou um Ita no norte e foi pro Rio morar, com o tio, na sua grande casa no bairro de Santa Teresa, até que a revolução de 30 deixou-os em situação econômica difícil e ele teve que seguir sua vida sozinho.
     Espero que minha pequena homenagem ao extinto jornal O Paiz, faça jus à importância que teve no passado e à justeza das lutas que encabeçou, em prol da liberdade do povo brasileiro.
     Algumas informações sobre o antigo jornal O Paiz, estão no link abaixo:
    
Rapidinhas
Olímpicas
Pirotecnia
     Muito bonita a pirotecnia na abertura das olimpíadas. Essas aberturas estão virando um espetáculo à parte, sempre contando a história do país, o que é meio provinciano, na minha opinião.
     Claro que faltou mostrar os diversos povos que os ingleses massacraram pelo mundo, no tempo do seu império colonial, quando Julio Verne chamava a Inglaterra de pérfida nação.
     Acho que essas aberturas deveriam dar ênfase a história do esporte e de como ele aproxima os povos e não ficar exaltando o país sede. Já imagino como vai ser no Rio em 2016, com africanos, índios e portugueses, transformando tudo num grande carnaval.
     Espetáculo à parte foi ver aquela rainha sonolenta acordando para declarar open the games.    

Fraude arquitetônica
     A torre que os ingleses construíram ao lado do estádio olímpico de Londres (à esquerda), é claramente inspirada na famosa Torre Tatlin (à direita), uma espiral em aço que circundava uma pirâmide, projetada pelo arquiteto soviético, Vladimir Tatlin, em 1919, em homenagem à Terceira Internacional.
     A torre, que deveria ser erguida em Petrogrado, dentro da concepção do construtivismo russo, nunca foi construída, mas um modelo se encontra no Museu de Arte Moderna de Estocolmo, na suécia.


O melhor do Brasil

     Parabéns à equipe brasileira no Judô, principalmente à atleta Sarah Menezes que conquistou, com muita garra, a primeira medalha de ouro para o Brasil. O atleta Felipe Kitadai conquistou a medalha de bronze, a primeira medalha do Brasil nessas olimpíadas.
     Thiago Pereira surpreendeu ao conquistar a prata nos 400 metros, superando o famoso Michael Phelps, que não foi bem. Arthur Zanetti e Sergio Sasaki foram muito bem nas provas de ginástica olímpica e avançam na competição. A equipe masculina de basquete venceu a Austrália, em jogo duríssimo e também avança.
Energia feminina

     As equipes femininas de volei e handebol venceram na estréia, contra Turquia e Croácia, respectivamente. Juliana e larissa, a dupla do volei de praia, estrearam com vitória também, sobre as Ilhas Maurício.
     Muito bom o jogo da seleção feminina do Brasil contra Camarões (5x0), com destaque para a tabelinha Marta - Cristiane. Sem dúvida um começo auspicioso, mas sabemos que ainda vem muita dificuldade pela frente. O segundo jogo, contra a Nova Zelândia, foi mais cauteloso, mas alcançou bons resultados também, ficando no1x0.
      Já o jogo da seleção masculina contra o Egito preocupou pela ausência de conjunto. Tirando os talentos individuais, falta articulação na equipe, que continua marcada pelo individualismo, estrelismo e falta de atitude.
      Mano Menezes, aparentemente continua apostando na imobilidade.
      Acho que Lula tinha razão, quando perguntado sobre qual seria o maior problema para a realização da copa do mundo no Brasil, em 2014. Ele respondeu: a seleção!
+ rapidinhas
Viva Juninho!

     E já que estamos falando de futebol, Juninho Pernambucano continua cada vez melhor. O passe que ele deu, quase sentado, para que o Vasco marcase o gol da vitória contra o Botafogo foi fantástico. Nem parece que o atleta tem 37 anos.
     O Vasco, aliás, vem se destacando pela regularidade. Desde 2011 quando conquistou o campeonato da série B, a Copa do Brasil e o vice-campeonato do Brasileirão, o time continua muito bem, com chances de conquistar o Campeonato Brasileiro de 2012, apesar do empate com o Internacional neste sábado.




São Paulo nas mãos do crime
Incrível o aumento da criminalidade em São Paulo, comprovando que as políticas de segurança do PSDB, que privilegiam a repressão em lugar da prevenção, não dão resultado.
Não adianta encher as ruas de viaturas e policiais e deixar os bandidos se organizarem livremente. O resultado é esta guerra a que estamos assistindo, com bandidos cada vez mais ousados e uma polícia violenta, matando inocentes para tentar mostrar serviço.
Veja a diferença da política aplicada no Rio de Janeiro, voltada para a ocupação das áreas dominadas pelos criminosos e para ações preventivas, com ênfase na inteligência, que desbaratem o crime organizado, antes que ele possa atacar.
Está na hora de mudar esses políticos paulistas. Ninguém aguenta mais José Serra e cia.

Lançamento

     Recebi, para divulgação, o cartaz do lançamento do livro de Damário Dacruz, ocorrido em Cachoeira, Bahia, no dia 27 de julho. Trata-se de obra póstuma do poeta, intitulada Todo Risco, o ofício da paixão, publicada pela Fundação Pedro Calmon, em parceria com a Editora Livro.com.
     Para maiores informações consulte www.fpc.ba.gov.br

A Manilha e o Libambo I
A Senegâmbia, a Costa do Ouro e Tumbuctu
     Prezados amigos leitores.
     Já fazem algumas semanas que venho me deliciando com a leitura deste livro, de Alberto Costa e Silva, intitulado A Manilha e o Libambo - a África e a escravidão, de 1500 a 1700, (Editora Nova Fronteira, Rio de Janeiro- 2011).
     Pensei em terminar a leitura e fazer uma resenha, como sempre faço, mas à medida em que a leitura avança isto me parece, cada vez mais, uma tarefa impossível, dada a quantidade imensa de informação sobre os povos africanos e suas relações com os europeus, principalmente os portugueses, nos séculos XVI, XVII e XVIII. Assim que resolvi partir a resenha em várias, para que não fique grande demais.
     A primeira surpresa, para quem não é do ramo, é perceber o total desconhecimento que nós, brasileiros, temos sobre a África. Não sabemos nada, além da historinha que nossos livros escolares contam sobre a escravidão.
     No decorrer do livro, uma realidade imensa e deconhecida se derrama sobre nós, trazendo ao nosso imaginário centenas de povos, organizados em reinos e cidades-estado.
     Costa e Silva começa a contar sua história à partir do norte, pelo mediterrâneo, analisando as sociedades africanas, já conquistadas pelos árabes e pelo Islam, sempre focando na instituição da escravidão, que segundo ele, é muito mais antiga do que possamos imaginar, e já era praticada por chineses, indianos, indonésios e outros povos orientais, muito antes de se disseminar pela África Negra, onde também já existia antes da chegada dos europeus, embora com menos intensidade.
     Ele trata o deserto de Saara como um oceano, que assim como os formados por águas, também exigiu uma tecnica para conseguir ser atravessado, para que os povos mediterrâneos pudessem entrar em contato com a África subsaariana.
     A grande mudança neste ambiente tão hostil ao ser humano, ocorreu com a domesticação do dromedário e do camelo, por volta do ano 650, permitindo que os árabes fizessem o reconhecimento do grande deserto e começassem a abrir passagens para o sul e a comerciar com os povos da África Negra, através das suas grandes caravanas transaarianas.
     Junto com eles, seguiam as especiarias da Índia e o sal, que seria trocado com os africanos por ouro e escravos. Muito embora o islamismo impusesse uma série de barreiras à escravização de seres humanos, essa prática rapidamente se disseminou por uma razão muito simples, e que se repetiria na aventura atlântica dos europeus: o comércio de seres humanos era de longe o mais lucrativo e permitia a acumulação rápida de grandes fortunas, tanto para os compradores quanto para os vendedores.
     Segundo Costa e Silva, "Ralph A. Austen calculou em um milhão, 740 mil os escravos negros que chegaram ao mundo islâmico pelas rotas transaarianas, entre 650 e 1100."
     Quando os portugueses começaram seu desbravamento do litoral africano, nas costas do Marrocos, tiveram logo que enfrentar a concorrência das caravanas, que acessavam cidades interiores africanas, muito distantes do litoral e desconhecidas dos europeus e desenvolveram uma rede de pequenos comerciantes internos, os uângaras, que corriam por todo norte da África a mercadejar com seus produtos. Os árabes entram na África por dentro e os europeus pelas bordas. Entre as duas investidas uma guerra religiosa se trava entre cristianismo e islamismo, tentando se sobrepor às religiões tradicionais africanas e desenhando fronteiras ideológicas que ainda hoje se fazem sentir fortemente, como as que atualmente provocaram a divisão do Sudão em dois estados, um cristão ao sul e outro islâmico ao norte.
     Mas o mais surpreendente para o leitor desavisado, é o estágio de desenvolvimento mercantil dos africanos. Ao contrário do querem nos fazer crer, a África já dispunha de um grande mercado interno, com trocas intensas.
     Não haviam fronteiras fixas, desenhadas em mapas, como as conhecemos hoje (nem tampouco na Europa isto havia ainda se consolidado), mas reinos que se expandiam e se contraíam, à partir de guerras de conquista, onde pequenos estados se submetiam à suserania de outros, num sistema de tributos e prestação de contas entre lideranças, em constante mutação, onde os pequenos tentavam crescer a custas dos maiores, buscando posições mais vantajosas, o que resultava em muitas guerras.
     Mas o comércio era intenso e constante. Os africanos dominavam a fundição do ferro e até do aço, mas especialmente do cobre, com o qual produziam as manilhas (à esquerda) em forma de pulseiras, que lhes serviam de moeda. Produziam também tecidos finos, dominavam a pesca e a agricultura, assim como a mineração.
     O autor então começa a descer o atlântico, descrevendo a epopéia pioneira portuguesa onde vão fundando entrepostos e tratando de fazer acordos com os reis africanos, estabelecendo contatos comerciais que vão se aprofundando, sempre em busca de riquezas como o ouro e a prata, à qual davam em troca produtos europeus, como os tecidos italianos, cavalos lusitanos, contas de vidro, tecidos de veludo e outras mercadorias.
     É antes de mais nada um relacionamento comercial, onde a concorrência se trava, em primeiro lugar, entre árabes e europeus, uns adentrando a África pelo deserto e outros bordejando-a pelo mar. A conquista de Ceuta, em 1415, embora tenha sido um feito militar, não levou Portugal a conquistar um território, semelhante ao que hoje consideraríamos uma colônia, mas apenas uma cidade à beira-mar, uma base para garantir o seu comércio, onde, antes de tudo, buscavam ganhar a confiança dos reis e, sempre que possível, o monopólio do comércio.
     A escravidão é tratada como tema central do livro, desde os primórdios dos contatos entre árabes, europeus e africanos, porque o comércio de seres humanos não cessa de se intensificar nessa época, representado pelo libambo do título, que era uma espécie
de forquilha usada para imobilizar os escravos que caminhavam em fila (na figura à esquerda), ligados por cordas ou correntes. A manilha e o libambo, portanto, simbolizam bem esta época onde o comércio era pago com as manilhas e seu principal produto o próprio ser humano, preado em excursões pelo interior do continente, de início por árabes e europeus e depois pelos próprios reis africanos que descobriram no comércio de corpos uma fonte do aumento de seu poderio e riqueza, assim como de enfraquecimento dos seus rivais.
     O escravo, de início capturado pelos árabes principalmente entre europeus nórdicos e eslavos (a palavra escravo vem de eslavo), precisa ser alguém de longe, para que não fuja com facilidade, retornando à sua comunidade. Precisa ser diferente, preferencialmente até de outra etnia, para que possa ser identificado como estrangeiro e à partir daí desumanizado e tratado como coisa.
     A escravidão já existia na África Negra, segundo o autor, principalmente nos grandes reinos da savana sudanesa, como os de GanaMali, Canen-Bornu e Songai, "...estados de maiores dimensões e mais centralizados e hierarquizados", mas com o contato com os mercadores árabes e europeus, os reis africanos logo descobriram que, o que até então era um modo de produção para fornecer mão de obra a um continente de terras vastas e férteis, podia também se transformar num comércio lucrativo e passaram a caçar seres humanos nos reinos vizinhos, até para impedir que os seus próprios fossem caçados, e vendê-los aos mercadores.

A Senegambia
     Na viagem que vai fazendo para o sul, através da costa atlântica da África, o autor descreve os reinos da Senegâmbia, ao sul da atual Mauritânia entre o Rio Senegal, no noroeste africano, onde predominavam os jalofos, com seus reinos vassalos de Ualo, Caior, Baol e Sine e o Rio Gâmbia, mais ao sul, de onde se descortinava o grande império do Mali suserano dos reinos de Sangoli, Cantorá, Niumi, Uli, Jalom, Futa e Gabu, além do reino de Songai, muito mais a dentro do continente, já nas margens do alto rio Níger. O mapa abaixo, à direita, retirado do livro, mostra a região noroeste da África na época das navegações portuguesas, com os povos que eles encontraram na Senegâmbia, na chamada Costa do Ouro e no golfo de Benin. o mapa à esquerda mostra a Senegâmbia atual, formada pelos territórios do Senegal (à partir da margem sul do rio Senegal) e de Gâmbia, que é um pequeno enclave dominando as duas margens do rio Gâmbia.
    Todos esses reinos tinham suas capitais no interior, muito distantes do litoral e mais próximas às praias do grande deserto, por onde chegavam as cáfilas, como eram chamadas as grandes caravanas de mercadores. Com o advento das caravelas, parte desse comércio se deslocou para o litoral, mas mesmo assim, as grandes caravelas portuguesas eram obrigadas a subir os rios para fazer acordos com os reis, pagando tributos e ofertando presentes, para adquirirem o direito de comerciar.                                          

A Costa do Ouro
Continuando para o sul, ainda seguindo mapa do noroeste africano, os portugueses entraram em contato com os povos do que eles chamaram de Costa do Ouro. O país dos Acãs, já se situava em plena floresta tropical, ao sul da savana africana, e dentre os vários reinos em que se dividia, tinha no reino de Bono, cuja capital era a cidade de Bono Mansu, no chamado Volta Negro (Rio Volta), o seu centro mais importante, irradiador do seu modelo político. Um pouco mais ao norte, a cidade de Bigu era uma espécie de entreposto por onde se comerciava o ouro, retirado pelos acãs do seio da grande floresta, com o Mali,  o país dos mandingas, situado mais ao norte, às margens do grande deserto, e grande comprador de ouro em troca de produtos que vinham pelas cáfilas transaarianas.
      Bigu não era apenas um entreposto, mas "...um importante centro textil, de produção de ferro e trabalho no marfim e no cobre".
     Os acãs logo aprenderam a comerciar com os portugueses e, em troca de ouro, se tornaram grandes compradores de escravos para suas minas e para a derrubada da floresta na ampliação de suas plantações, que faziam a fortuna dos líderes dos clãs que se apropriavam das melhores terras.
     Recebiam também, em troca do ouro, objetos de cobre (que era considerado mágico, defendendo quem o usasse de raios, enfermidades e maldições), tecidos como os linhos brancos e a lãs azuis e vermelhas, o vinho branco, as pimentas e outras especiarias da Índia, o coral, o âmbar, a ágata, as contas de vidro coloridas e também alguns tipos de conchas raras  que eram usadas como ornamento e até como moeda circulante (como o cauri das ilhas Maldivas).
     Os portugueses passaram rapidamente de compradores a vendedores de escravos, na Costa do Ouro, escravos obtidos mais ao norte, na Senegâmbia, resultado das guerras internas, principalmente entre os reinos do Mali e de Songai, e preados pelos mercadores uângaras, que os levavam até o litoral para vendê-los aos europeus.
     Para consolidar seu comércio com os reinos acãs, os portugueses construíram em 1482, na localidade conhecida como Mina, o forte de São Jorge da Mina, (na foto abaixo, hoje localizado em Gana) para defender seu entreposto e afungentar os barcos holandeses, franceses, espanhóis e ingleses, que já ameaçavam seu monopólio comercial.
    
Segundo Costa e Silva, "...os portugueses levaram para o castelo de São Jorge, no período que vai de 1500 a 1535, entre dez mil e 12 mil escravos. E estima-se que Lisboa tenha recebido anualmente, daquela fortaleza, nas duas últimas décadas do século XV, cerca de 400 ou 500 Kg de ouro, e entre mais de 410 e 700Kg, por ano, nos vinte primeiros anos do Quinhentos."Mas a competição entre as caravelas e as caravanas nunca foi vencida pelos portugueses, pois os uângaras tinham interesse em manter abastecidas as caravanas do deserto, lucrando com o comércio em duas frentes, a do Atlântico e a transaariana.
    
    
 O Madimansa e Tumbuctu

     O alto rio Níger tinha nas cidades de Jené e Tombuctu seus principais contatos com os mercadores do deserto. Ao final do século XV elas eram controladas pelo Madimansa, como era chamado o imperador do grande estado central do Mali. Ao final deste século, porém, o reino do Songai começa sua grande expansão, às custas do Mali, até que o Ásquia (rei de Songai), consegue controlar toda a região, o que inclui os portos do deserto e as minas de sal, através do qual podia conseguir o ouro dos acãs.
     Esta guerra que se estendeu por mais de 100 anos, criou grandes levas de escravos que eram levados à Senegâmbia e vendidos aos portugueses, que os levavam para serem vendidos na Mina ou em Portugal e Veneza e fez com que o reino do Mali encolhesse em tamanho e importância, embora nunca tenha desaparecido.
     Os portugueses intervinham nessas guerras, apoiando os reis que lhes eram mais convenientes, e com isto ajudaram a destruir o grande reino Jalofo da Senegâmbia, que se dividiu numa constelação de pequenos reinos.
     Em meados do século XVI, os marroquinos resolvem invadir os domínios de Songai, numa desforra pela perda da península ibérica, tentando tomar ao portugueses o controle do ouro acã, que saía pelo deserto. Cruzam o Saara com suas armas de fogo, arcabuzes e canhões, e logram tomar Tombuctu e Jené, avançando sobre o reino Songai.
     O Madimansa da época, aproveita a oportunidade para tentar recuperar parte das suas terras perdidas para Songai e reúne um exército, tentando reaver seus domínios ao norte, especialmente Tombuctu e Jené, mas é derrotado pelos exércitos de Songai.
     Perseguido na sua fuga, o Madimansa é alcançado pelos soldados de Songai, mas segundo os cronistas da época, estes ao prenderem-no, se ajoelham diante dele e pedem que fuja, para não ser capturado.
     O Madimansa, apesar da perda de seu poder, mantinha sua aura de chefe sagrado, que transcendia o Mali e se espalhava pelos reinos Jalofos, Acãs e pela própria Songai.
     Os marroquinos conseguem dominar por algum tempo os portos do deserto, e desviam toda a riqueza de Songai para o marrocos, através do deserto: "Logo após a conquista do coração de Songai, o ouro correu para Marraquexe. O ouro, o marfim e a escravaria. Não só os marroquinos para lá encaminharam, sem permitir que tomassem outros caminhos, todas as mercadorias de exportação que, vindas do sul e do sudoeste, desciam em Jené,  Tombuctu ou Gaô, como devem, com o resultado de saques e do confisco, ..., ter aumentado substancialmente os primeiros carregamentos.  
     Mas diante da dificuldade logística de manter esses postos avançados do outro lado do deserto, acabam abandonando-os. O Madimansa e seus prepostos, os Mandingas, preservam sua autoridade, mesmo com um território reduzido e continuam a influenciar toda a região, com sua estrutura política e econômica.
     Tombuctu preservou sua aura de cidade governada por uma elite intelectual e Jené de cidade de ferreiros e artesãos, um verdadeiro centro industrial às portas do deserto. Tumbuctu ainda existe e hoje está situada no Mali, sendo tombada pela Unesco, como patrimônio histórico mundial, sediando a importante Universidade de Islâmica de Sankore. (para maiores informações sobre sobre Tombuktu, consulte o link http://worldgeoblog-marilu.blogspot.com.br/2011_09_01_archive.html).


    
    

sábado, 21 de julho de 2012

Rapidinhas

Ucranianas

     Prezados amigos, vivemos em um mundo de conflitos e guerras, violência, corrupção e competição. Mas no meio de tudo isso existe gente que sabe protestar com humor. Vejam aquelas ucranianas que tem mania de tirar a roupa para protestar.
     Pelo menos um toque de beleza e brincadeira no meio de tanta confusão. Se a moda pega...
     Se elas morassem em Salvador, com certeza já teriam tirado a roupa em frente ao palácio do governo, exigindo a demissão daquele Secretário de Educação cara de pau, que continua afirmando que, após mais de cem dias de greve dos professores, tudo está normal, como se estivessemos no melhor dos mundos.
     Viva as ucranianas!
E os aeroportos?

      Faltam apenas dois anos para a copa de 2014 e não estou vendo obra nenhuma nos aeroportos.
     Os estádios já estão ficando prontos, as obras de mobilidade urbana estão sendo licitadas ou já estão em andamento, hotéis estão sendo construídos, mas os aeroportos estão parados.
     Estão esperando o que para começar as obras?
     São esperados mais de 4 milhões de turistas para os jogos. Se os aeroportos já não dão conta do tráfego aéreo e da demanda dos passageiros hoje, como vão atender toda essa gente quando chegar a hora?
     Vamos acordar aí pessoal!
Oficina de textos em Livramento
    
Recebi, para divulgação, este convite para uma oficina de produção de textos que será promovida gratuitamente para os estudantes da rede pública, entre 10 e 18 anos, na cidade de Livramento, Bahia.
     Mais uma iniciativa importante na área da cultura promovida pela professora Esther Lígia.
     Parabéns Livramento!
     
D. Eugênio Salles, o cardeal da ditadura


     Ridícula a cobertura que a Globo deu ao falecimento de D. Eugênio Sales, ex-cardeal do Rio de Janeiro, tentando vesti-lo como herói da luta contra a ditadura, invertendo os fatos históricos. D. Eugênio foi, na verdade, o maior aliado da ditadura dentro da igreja Católica no Brasil e por muitas vezes recusou ajuda a quem o procurava, para reparar injustiças ou intervir por presos desaparecidos.
     A Igreja Católica teve papel destacado na luta pela democracia sim, mas na pessoa de D. Helder Câmara e D. Paulo Evaristo Arns, dentre outros.
     Sobre isso vejam artigo de José Ribamar Bessa Freire, publicado no blog de Rubens Mascarenhas, no link abaixo.
On the road
(Na estrada)


     Fui assistir ao filme de Walter Salles, feito à partir do livro On the Road, um clássico americano dos anos 1950 e considerado a bíblia do movimento beatnik, os jovens rebeldes sem causa que viviam uma vida transgressora e desregrada, que foram os precursores do movimento hippie, dos anos 1960.
     A obra foi recebida com reações contraditórias em Cannes. Os americanos não gostaram, ao contrário de alguns europeus.
     Assistindo ao filme, porém, dá pra entender essas reações.
     Mesmo sendo uma produção americana, com atores idem, Walter Salles passa uma imagem crítica dos Estados Unidos que é tipicamente brasileira. Em nenhum momento aparece a clássica cena da bandeira americana, presente em todos os filmes made in USA, nem há aquela complascência com os problemas da sociedade deles.
     Pelo contrário, em vários momentos as contradições do país aparecem. Como na cena em que o personagem Sal Paradise, vai trabalhar numa plantação de algodão e se detém ao receber 1 dólar e cinco centavos, após um dia inteiro de trabalho, lançando um olhar questionador para o funcionário que o está pagando. Também os sobrenomes dos trabalhadores que vão sendo chamados para receber o pagamento é muito revelador: a maioria estrangeiros, hispânicos ou chineses, mostrando o sistema de exploração a que os imigrantes estão expostos nos Estados Unidos.
     Também numa cena em que eles viajam de carro pelas estradas e ouvem na rádio uma propaganda anti-comunista, dizendo que no socialismo as liberdades civis não são respeitadas, e em seguida o carro é parado por um guarda, por excesso de velocidade, que exige 25 dólares em troca de deixá-los partir, depois de fazer uma série de ameaças que desrespeitam seu direito de ir e vir.
     Ao final, quando o escritor Sal, vê os primeiros aparelhos de televisão, numa vitrine, e neles está passando uma mensagem sobre a necessidade dos cidadãos aceitarem os controles das autoridades, fica bem evidente a discrepância entre o discurso liberal e a realidade de controle governamental sobre a população, existente no país.
     Também os clichês sobre o México, tradicionalmente mostrado em filmes americanos como um local sujo e habitado por gente perigosa, é substituído por uma visão muito mais realista das cidades latino-americanas, meio bagunçadas mas acolhedoras.
     É claro que os americanos não gostaram, acostumados que estão a falar apenas aquilo que as grandes corporações permitem. Críticas só aos outros países. No que diz respeito a eles próprios, estão sempre acima do bem e do mal.
     Em outra cena, o mesmo Sal Paradise critica o general Mac Arthur, então interventor no derrotado Japão, por proibir o beijo nas ruas de Tóquio.
_Quem ele pensa que é? Pergunta o personagem, olhado com espanto pela sua própria família, pela sua crítica inconveniente.
     Mas o filme não é uma crítica aos Estados Unidos, apesar dessa visão brasileira, pelo contrário, tenta ser muito fiel ao texto. Eu não li o livro, mas suponho que o roteirista tenha se mantido muito fiel à história em que o escritor conta o seu encontro com o jovem Dean Moriarty, que vivia uma vida inconsequente de transgressões e que captava seguidores numa juventude de classe média intelectualizada, desencantada com uma sociedade conservadora.
     Esse excesso de fidelidade ao texto deixou o filme um pouco longo demais, o que faz com que às vezes olhemos para relógio, nos perguntando quanto tempo falta para terminar, já que não há um climax muito marcado na história, que indique a proximidade do final.
     Essa preocupação com a fidelidade ao texto é compreensível, em se tratando de um texto cult, que nenhum diretor americano teve coragem de filmar até hoje. Talvez apenas um estrangeiro tivesse mesmo o distanciamento necessário para fazê-lo, e é natural que ficasse preocupado com a crítica cinematográfica, que iria observar seu produto com lupa, para analisar um trabalho considerado tão difícil.
     Mas é um belo filme, que mostra com muito cuidado o desencanto de uma geração americana com a falta de opções, num país que então se afirmava como liderança mundial. A negação da sociedade, através de uma vida autodestrutiva, pelas drogas, pelo sexo e pelas transgressões aventureiras, é apenas uma prévia do que seria a história do capitalismo no pós-guerra. 
     Vale a pena ver.
Ficha técnica
A adaptação do livro de mesmo nome, de 1957, do escritor Jack Kerouac, é baseada em fatos reais e conta a história de como o escritor Sal (Kerouac, na vida real) conhece Dean (Neil Cassady) e sua mulher, Marylou (Luanne Henderson). Juntos, eles viajam pelas estradas de leste a oeste dos Estados Unidos. com os atores Garrett Hedlund (Dean Moriarty), Kristen Stewart (Marylou) e Sam Riley (Sal Paradise) que aparecem refletidos no retrovisor do carro no poster do filme e ainda, Viggo Mortensen, Kirsten Dunst, Alice Braga, Steve Buscemi, Amy Adams e Tom Sturridge, entre outros.
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Uma fundação cultural para Rio de Contas


     O modelo de gestão cultural compartilhado entre o público e o privado vem dando certo em vários estados brasileiros, em forma de fundações que, apesar de manterem seu caráter de entidades públicas, voltadas para o interesse coletivo, com relevante papel educativo, tem autonomia administrativa e financeira para buscar recursos próprios, além daqueles alocados pelo poder público.
     Um exemplo desse tipo de gestão é a Fundação Clóvis Salgado do governo de Minas Gerais, que gerencia vários equipamentos importantes em Belo Horizonte, aluga seus espaços para shows promovidos por entes privados e exerce suas funções educacionais e de formação de público para diversas formas de arte.
     Em Rio de Contas, guardadas as devidas proporções, poderíamos ter uma fundação que gerenciasse o Centro de Cultura, hoje entregue a uma faculdade particular, o Teatro São Carlos, hoje fechado, aguardando por uma reforma do telhado ou até por uma ampliação já definida em projeto aprovado pelo IPHAN, e o Museu Arqueológico da Chapada Diamantina, já criado por lei municipal e aguardando apenas que a prefeitura lhe ceda um espaço para funcionamento, apesar de já ser dono de um acervo importante, resultado das escavações para construção da rodovia Rio de Contas - Jussiape, e da rede de esgotos da cidade, acervo este que se encontra em Salvador, em parte em mãos da Embasa, em parte da UFBA.
     Uma Fundação Cultural poderia gerenciar também um novo espaço a ser construído para realização de espetáculos maiores e, se algum prefeito tiver a coragem de desapropriar o antigo Colégio Circea, que se encontra desativado servindo apenas de residência para o padre da cidade, poderia cedê-lo para que alguma instituição de ensino superior traga um campus avançado em alguma área de conhecimento que tenha relação com a cidade, seja a mineralogia, as ciências agrárias, a arquitetura, a música, a história, ou até mesmo a arqueologia, já que a região concentra um acervo importante de pinturas rupestres.
     Recentemente visitei o Parque da Serra da Capivara, no Piauí, e fiquei surpreso ao perceber que as pinturas do paredão de Jussiape, por exemplo, são muito mais numerosas e nítidas que as piauienses, faltando apenas um trabalho de pesquisa e divulgação. Além delas pude conhecer algumas em Livramento, em Itaberaba, as de Iraquara e tomei conhecimento de uma pintura representando uma cobra, em Rio de Contas, no distrito do Brumadinho, além das já catalogadas em Caetité. Há notícias de muitas outras.
     Sabe-se que um dos maiores problemas das cidades históricas, tombadas, é encontrar uma função urbana que lhe permita crescer sem destruir seu patrimônio. Ouro preto, em Minas Gerais, é um exemplo de solução, que lhe permitiu tornar-se um cidade universitária, trazendo a alegria dos estudantes, com seus festivais de arte e cultura, preservando seus tesouros arquitetônicos e sua cultura popular enquanto gera milhares de empregos para seus cidadãos.
     Fazer tudo isso apenas com verbas públicas do minguado orçamento municipal seria muito difícil. O formato de fundação poderia permitir aportes dos governos estadual e federal, além da independência necessária para a busca de parcerias com entes privados, que permitissem manter uma efervescência cultural constante na cidade, alimentando a indústria do turismo.
     A construção de um calendário anual de eventos, com festivais de música, gastronomia, cinema, literatura e teatro, garantiria um fluxo constante de visitantes, especialmente em épocas distantes das festas tradicionais. Cursos de formação nessas áreas poderiam atrair também moradores temporários, que trariam renda e gerariam empregos. Além disso seria possível a formação de grupos de arte permanente, como um coral, um grupo de teatro da fundação e até uma orquestra sinfônica, em parceria com a centenária Lira dos Artistas da cidade, além da multiplicação dos pontos de cultura, que seriam apoiados pela própria fundação e o apoio às manifestações culturais tradicionais da cidade, como os reizados, as pastorinhas e as manifestações da cultura negra.
     Exemplos como o de Parintins, um remoto município na divisa do Pará com o Amazonas que se tornou destino de turismo internacional à partir de um único evento anual, o seu famoso Festival Folclórico, nos mostram que é possível fazer muito nesta área.
     Rio de Contas tem tudo para se tornar um centro cultural importante na região sudoeste da Bahia e estou certo de que se houver protagonismo em políticas públicas, o Governo do Estado terá o maior interesse em se associar a elas, assim como várias empresas locais e nacionais.
     

sábado, 14 de julho de 2012

Rapidinhas

Alegria, alegria
     Confesso que não esperava ser tão bem recebido pela família de meu amigo, Adriano Araujo, em Salvador. Família e amigos se reuniram para vê-lo e foram muito gentis comigo.
     É uma turma muito alegre, simpática e divertidíssima. Uma família grande e unida e que encara a vida de modo muito positivo. Um exemplo de amor e solidariedade.
     Os baianos tradicionalmente são gente alegre e solidária, mas essa família é realmente especial.
     Agradeço a Deus tê-los conhecido.

Olimpíadas S.A.



     A organização das olimpíadas de Londres está levando a extremos a dominação das grandes corporações sobre os eventos esportivos internacionais. Agora instalaram a censura sobre as roupas das pessoas que forem assistir aos jogos. Não serão permitidas manifestações políticas, como camisetas do Che Guevara, por exemplo, nem utilização de propaganda de empresas concorrentes das patrocinadoras dos jogos.
     É como se cada espectador tivesse um contrato assinado de exclusividade com as marcas que patrocinam o evento, o que além de ilegal, pois cerceia o direito de livre manifestação, é um sinal muito preocupante do avanço do controle social das empresas sobre a população, em detrimento da democracia.
     Já não basta o escândalo que está sendo a política de socorrer os bancos europeus com bilhões de euros, enquanto cortam salários, pensões e benefícíos sociais dos trabalhadores, agora passaram ao controle direto, com proibições e tudo mais.
     É o fascismo voltando, sob inspiração da Füehrer Angela Merkel, comandando a Europa. E sempre que isto aconteceu por lá, o resultado foi trágico. Nuvens escuras no horizonte da humanidade.

Bye Bye OEA

     E por falar nisso, o presidente da Organização dos Estados Americanos, OEA, o chileno Miguel Insulza, declarou que não houve golpe no Paraguai e que não há razões para este país sofrer sanções, numa nova demonstração de que não passa de um instrumento do Departamento de Estado dos Estados Unidos, que já avisou que é contra sanções ao Paraguai.
     É o caso de se perguntar o que o Brasil ainda está fazendo nessa instituição, criada na esteira da guerra fria para defender os interesses norte-americanos.
     Incapaz de se pronunciar sobre a disputa colonial que a Inglaterra trava com a Argentina sobre as ilhas Malvinas, o que na prática significa apoio aos ingleses, mantendo há 50 anos Cuba excluída dos seus filiados e fazendo investigações sobre direitos humanos na América Latina, enquanto não tem coragem de investigar os crimes cometidos pelos Estados Unidos em Guantânamo e em outras partes do mundo (veja artigo do ex-presidente Jimmy Carter intitulado EUA: um recorde raro e cruel, no link abaixo) a OEA continua sendo o Ministério das Colônias, como definiu Che Guevara.
     Todos sabem que por trás dos golpes que destituiram Zelaya em Honduras e Lugo no Paraguai está a mão de gato dos americanos, numa tentativa de se contrapor aos governos de esquerda da América Latina. Mas o golpe no Paraguai nos atinge diretamente, dado o interesse americano em montar uma base militar junto à chamada tríplice fronteira, em Foz do Iguaçú.
     A OEA é uma relíquia da guerra fria que não serve mais aos nossos interesses. Com a criação do Mercosul, da Unasul e de outras instituições regionais,é hora de dizer adeus a essa instituição anacrônica, intenção já manifestada por vários presidentes latino americanos. Coragem é o que não falta a nossa presidente Dilma.

http://operamundi.uol.com.br/conteudo/opiniao/22928/eua+um+recorde+raro+e+cruel.shtml

Alfonsina y el mar

     E já que estamos falando de América latina, deixo aos leitores esta jóia que é a música Alfonsina y el mar, (letra em espanhol com tradução minha) de Mercedes Sosa, interpretada por ela mesma (no link ao fim da página). A música é bem conhecida, mas o que eu não conhecia era a história da poeta argentina, Alfonsina Storni, que a inspirou ao se suicidar entrando no mar, em 1938, logo após escrever a poesia Voy a dormir (também abaixo). Sem dúvida um adeus muito triste e poético.

Por la blanda arena     Pela areia macia
      Que lame el mar    Que o mar lambe
        Su pequeña huella    Sua pequena pegada
     No vuelve más    Não volta mais
              Un sendero solo    Um caminho solitário
         De pena y silencio llegó    De pena e silêncio chegou
             Hasta el agua profunda    Até as profundezas da água
               Un sendero solo   Um caminho solitário
          De penas mudas llegó   De penas mudas chegou
  Hasta la espuma   Até a espuma

         Sabe diós que angustia   Sabe Deus que angústia
            Te acompaño   Te acompanhou
      Que dolores viejos   Que dores velhas
           Calló tu voz   Calou tua voz
             Para recostarte   Para te recostares
     Arrullada en el canto   Aninhada no canto
     De las caracolas marinas   Dos caracóis marinhos
     La canción que canta   A canção que canta
    En el fondo escuro del mar  No fundo escuro do mar
      La caracola  O caracol

          Te vás Alfonsina  Te vais Alfonsina
            Con tu soledad  Com tua solidão
        Que poemas nuevos  Que poemas novos
      Fuiste a buscar  Foste buscar
         Una voz antigüa  Uma voz antiga
         De viento y de sal  De vento e de sal
  Te requiebra el alma  Te parte a alma
        Y la está llevando  E a está levando
       Y te vás hacia allá  E te vais para lá
            Como en sueños  Como em sonhos
                Dormida Alfonsina  Adormecida Alfonsina
           Vestida de mar  Vestida de mar

                Cinco serenitas  Cinco sereiazinhas
         Te llevarán  Te levarão
             Por caminos de algas  Por caminhos de algas
           Y de coral  E de coral
           Y fosforescentes  E fosforescentes
            Caballos marinos harán  Cavalos marinhos farão
               Una ronda a tu lado  Uma ronda a teu lado
          Y los habitantes  E os habitantes
           Del agua van a jugar  Da água vão brincar
              Pronto a tu lado  Logo ao seu lado

     Bájame la lámpara  Diminua a luz
               Um poco más  Um pouco mais
        Déjame que duerma  Deixe-me dormir
                     Nodriza, en paz  Ama de leite, em paz
                        Y se llama él  E se ele me procurar
         No le digas nunca que estoy  Não diga nunca que estou
                  Di que me he ido  Diga que fui embora

             Te vás Alfonsina   Te vais Alfonsina
              Con tu soledad   Com tua solidão
          Que poemas nuevos   Que poemas novos
        Fuiste a buscar   Foste buscar
           Una voz antigüa   Uma voz antiga
          De viento y de sal   De vento e de sal
   Te requiebra el alma   Te parte a alma
        Y la está llevando   E a está levando
       Y te vás hacia allá   E te vais para lá
           Como en sueños   Como em sonhos
               Dormida Alfonsina   Adormecida Alfonsina
         Vestida de mar   Vestida de mar
http://letras.mus.br/mercedes-sosa/37548/

Voy a dormir
Alfonsina Storni

Dientes de flores, cofia de rocío,      Dentes de flores, touca de sereno,
manos de hierbas, tú, nodriza fina,        Mãos de ervas, tu, ama-de-leite fina,
tenme prestas las sábanas terrosas         Deixa-me prontos os lençóis terrosos
y el edredón de musgos escardados.      E o edredom de musgos escardeados.
     Voy a dormir, nodriza mía, acuéstame.     Vou dormir, ama-de-leite minha, deita-me.
Ponme una lámpara a la cabecera;    Põe-me uma lâmpada à cabeceira;
una constelación; la que te guste;     Uma constelação; a que te agrade;
    todas son buenas; bájala un poquito.     Todas são boas: a abaixa um pouquinho
        Déjame sola: oyes romper los brotes…     Deixa-me sozinha: ouves romper os brotos…
  te acuna un pie celeste desde arriba     Te embala um pé celeste desde acima
  y un pájaro te traza unos compases     E um pássaro te traça uns compassos
     para que olvides… Gracias. Ah, un encargo:    Para que esqueças… obrigado. Ah, um encargo:
  si él llama nuevamente por teléfono    Se ele chama novamente por telefone 
le dices que no insista, que he salido.   Diz-lhe que não insista, que saí…
(Tradução de Héctor Zanetti)







Tristeza vazia


     Prometi a mim mesmo e a alguns amigos, que não me envolveria na campanha eleitoral da minha pequena Rio de Contas, em 2012, cansado das mesmices e das mesquinharias locais, mesmo que me pese o enorme amor que aprendi a nutrir por aquela terra, eu que não nasci lá, mas em outro Rio, o de Janeiro, já lá se vão mais de 61 anos.
     Mas a entrevista publicada no blog Notícias de Rio de Contas, concedida pelo atual prefeito a um jornal chamado "O ECO", jornal que nunca tinha ouvido falar até então, e que parece destinado apenas a fazer eco às vozes dos poderosos de plantão, me entristeceu pelo imenso vazio que contém.
     É o vazio de quem não tem o que dizer e tenta inventar o impossível para justificar quatro anos de abandono e avareza em relação à sua terra.
     Rio de Contas tem três vocações explícitas: a pequena agricultura, a cultura e o turismo. Eu que fui presidente e fundador da Associação dos Pequenos Produtores Rurais, até que a doença de minha mãe me levasse de volta a Brasília para cuidar dela no seu final, pude conhecer de perto o abandono em que vivem e continuaram vivendo os pequenos agricultores do município, neste quadriênio que se finda. Suas necessidades são simples, como é simples sua própria vida. Precisam de assistência técnica para que aprendam novos e melhores caminhos que aumentem e melhorem sua produção.
     A Secretaria de Agricultura do Município, no entanto, com seus dois agrônomos, andava sempre tão envolvida na política que os mantinha sempre em reuniões, nunca tendo tempo para visitar e orientar os agricultores. Cuidavam de distribuir mudas como se isso fosse resolver os problemas dos que vivem da terra, desconhecendo as pragas e doenças que assolam os cafezais e outros cultivos, como os de morango, e se recusando a ajudar os que não podem pagar pelo conhecimento de um agrônomo.
     A EBDA, empresa criada pelo governo estadual para realizar esta atividade, tem um escritório na cidade mas que também se dedica exclusivamente à política , servindo apenas para promover quem está no cargo, feitas as alianças necessárias com o poder municipal.
     O Prefeito diz na sua entrevista que promoveu uma "revolução" na agricultura. Uma tristeza. Não fez nada por ninguém a não ser para beneficiar alguns correligionários que ganharam "projetos experimentais", que nunca passam disso. Não há escala nas ações municipais. Que o diga quem tem que vender sua laranja a R$10,00 para os atravessadores que infestam nossas estradas vicinais, muitas vezes preferindo dá-las aos porcos.
     Na área da cultura as declarações do nosso alcaide beiram o ridículo. Deixou um néscio como titular da pasta durante os quatro anos, como que para fustigar os artistas da terra, e apresenta como conquistas da sua gestão as obras do IPHAN, conseguidas ao tempo em que fui chefe do escritório local, vale dizer, a reforma das duas igrejas históricas e a assinatura do PAC das cidades históricas, que tive que ir pessoalmente à sede do governo para convencê-lo a participar do ato. Acabou com o São João da cidade, transferindo-o para sua base eleitoral, no distrito de Marcolino Moura e fez o mesmo com o carnaval tradicional, famoso na Bahia, entregando sua organização ao seu assessor mais odioso, o notório perseguidor de opositores, que o transformou num lucrativo negócio para si mesmo, feito de baixarias, drogas e violência.
     Quanto ao turismo, basta passear pela cidade em dias normais para ver o abandono das pousadas e hotéis. Pergunte-se a qualquer dono de pousada o que vem acontecendo com o fluxo de turistas, que se antes já era intermitente, agora há dias em que o vazio da cidade dá medo. Outro dia estava tão deserta que um amigo de Salvador a quem levei para conhecê-la me perguntou se não havia risco de sermos assaltados, tal o ermo em que se encontrava.
     O Secretário de Turismo, um jovem simpático e completamente desconhecedor do assunto, permaneceu no cargo todo este tempo, tocando seus negócios particulares, sem tomar nenhuma iniciativa. Os poucos dias festivos se resumem às tradicionais festas religiosas da cidade, cuja origem remonta há muito tempo atrás, e não tem nada a ver com esta administração.
     Tudo muito triste. Um imenso vazio que me dói profundamente, principalmente por ter sido este prefeito uma promessa de renovação, que desembocou no mais puro cinismo, e que ainda tenta nos convencer com seus olhinhos infantis de que é a mais cândida das almas.

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Rapidinhas

Salve o Corinthians

     Muito merecida a vitória do Corinthians sobre o Boca na final da libertadores. Os dois gols de Emerson, o herói da noite, foram suados e corretos. A provocação tradicional dos argentinos, principalmente sobre Emerson, foi muito bem respondida com ironias, que impediram que o timão se descontrolasse, como era o objetivo dos provocadores.
     O time de Tite provou mais uma vez que não são as grandes estrelas, com suas chuteiras douradas, que ganham campeonatos, mas o trabalho persistente de uma equipe unida e aguerrida. É a prata da casa.
     Agora é esperar por Tóquio e, quem sabe, teremos o grande time paulistano campeão do mundo pela primeira vez.
     
Bem vinda Venezuela

     O golpe da direita Paraguaia com apoio americano, para desestabilizar o Mercosul, teve como consequência destravar a entrada da Venezuela, que estava há anos impedida de ingressar no bloco pelo mesmo senado golpista paraguaio. O tiro saiu pela culatra e, convenhamos, uma Venezuela vale muito mais do que um Paraguai.
     Agora, com a perspectiva de um acordo Mercosul-China, abrem-se as portas para a entrada de outros países da América do Sul, que ainda são membros associados. Se isso acontecer, a América do Sul estará abrindo portas largas para o seu desenvolvimento no futuro próximo.


Mais um símbolo de poder

     Londres inaugurou esta semana o edifício mais alto da europa, com 310 metros de altura.
     A Unesco protestou, alegando prejuízos à paisagem histórica e aos monumentos tombados da capital britânica. O projeto de Renzo Piano, o famoso arquiteto italiano, criou uma gigantesca pirâmide de vidro no centro financeiro da Londres. Um chamariz para os terroristas interessados em contestar o poder do capitalismo, e o edifício, sem dúvida, é um símbolo do poder do capital sobre a cidade.
     Será que isso ainda faz sentido? Não seria melhor investir em prédios mais baixos e harmoniosos?
     Mais uma Torre de Babel a ser destruída pelo desentendimento dos seres humanos?
    
Um mundo doente

     Revirando as coisas da casa de minha mãe, que fui obrigado a desmontar, achei um livro muito interessante, intitulado Receitas para ficar doente, do médico Marcio Bontempo (editora Hemus, Guarulhos, SP).
     O livro, escrito nos anos 80, descreve o absurdo dos tratamentos médicos voltados para a cura de problemas causados pela má alimentação que nós, seres humanos, estamos acostumados, sem que a medicina faça nada para prevenir os pacientes das causas dos seus problemas.
     O autor fala em duas indústrias complementares, a dos alimentos e a da medicina. A dos alimentos nos envenena com seus excessos de sal, açúcar branco, vários tipos de aditivos colocados nos alimentos (corantes, acidulantes, emulsificantes, aromatizantes, etc), carnes cheias de hormônios, além de estímulos ao consumo de alcool. Depois que ingerimos tudo isso e adoecemos, vem a indústria da medicina nos vender planos de saúde, muitos remédios e os serviços desses que deveriam nos orientar sobre nossa alimentação, mas não o fazem: os médicos.
     É um mundo doente e que lucra com as doenças. O estômago, que deveria receber o alimento que nos sustenta, virou um parque de diversões, para ajudar a humanidade a superar sua depressão, causada por uma vida idiotizada, feita de consumismo, de alienação e de submissão aos interesses das grandes corporações.
     Tudo se encaixa. Eles nos dominam fazendo com que acreditemos que temos que nos matar de trabalhar para subir na vida, gerando muito lucro, depois quando ficamos deprimidos com a falta de sentido disso nos vendem a ilusão de que consumindo cada vez mais nos sentiremos melhor.
     Quem sabe com um carro novo você poderá realizar todos os seus sonhos?
     Como isso também não funciona, sugerem que bebamos muita cerveja com os amigos para festejar e para acompanhar um churrasquinho. Já repararam como cada vez mais as pessoas oferecem churrascos? Ninguém imagina que possa haver alguém que não coma carne. Tenho dois filhos vegetarianos e acompanho a dificuldade cada vez maior deles para se alimentarem. Pede-se um pastel de queijo num boteco qualquer e... só tem com presunto. Não há nada só de queijo?, perguntam, e os atendentes respondem enfastiados que não. Mas tem de frango! Dizem. E frango não é carne? Não é um animal morto?
     A Terra virou um imenso matadouro para alimentar 7 bilhões de carnívoros, que se divertem comendo bichos criados nas condições mais vis de reclusão e tortura, e frequentemente mortos de maneira cruel, para tentar acreditar que suas ilusões de consumo são uma maneira adequada de viver.
     Quanto dinheiro gasto para construir churrasqueiras ao lado de piscinas, nas quais se recebem com orgulho os convidados, sem pensar no que estão comendo e bebendo: veneno!
     É tudo uma grande ilusão que vai acabar logo nos hospitais, onde a medicina entra com seu arsenal de exames tecnológicos, que ainda temos que acionar a justiça para que os planos de saúde aceitem pagar, mas que não impedem a progressão das doenças muito bem semeadas pelos alimentos contaminados que ingerimos, e pelo excesso de alcool e de proteína animal.
     Uma loucura!
     Enquanto isso os vegetarianos são olhados com desconfiança. Gente esquisita! Eles mesmos tem que ingerir alimentos contaminados, já que a soja, sua principal fonte de proteínas, está tomada de agrotóxicos, principalmente a soja transgênica, que é maioria nas prateleiras dos supermercados.
     Mas o que importa tudo isso, não é mesmo? A economia precisa crescer, dar lucros e tudo isso faz parte do nosso modelo de vida (e de morte). Comer, adoecer e usar muitos remédios e planos de saúde, dá até status.
     Um cidadão que só coma comida saudável e não adoeça, está conspirando contra o sistema. É um verdadeiro subversivo, como se dizia nos tempos da ditadura, pois está tentando impedir a realização de toda a lógica deste sistema: fazer com que as grandes corporações que dominam o mundo acumulem mais e mais riquezas e poder.
     E se você não aceitar empregos estressantes e competitivos, que desencadeiam todo esse processo, será visto como um preguiçoso que não quer trabalhar. O negócio é viver correndo de um lado para o outro para mostrar aos outros que você é um sujeito trabalhador, responsável e cumpridor dos seus deveres, mesmo que isso o torne um pai ausente e agressivo, um marido violento, um motorista histérico, que no fim do dia precisa tomar uma cervejinha para conseguir relaxar e fazer um sexo muito ruinzinho, só pra provar pra si mesmo que ainda dá no couro.
     Como dizia aquela música: Êh vida de gado, povo marcado, povo feliz!