Rapidinhas
Morre um mestre
Universidade de Constantine, em Argel Oscar Niemeyer
Mais um grande nome do século XX se vai. Desta vez foi Oscar Niemeyer o arquiteto de 105 anos que dedicou sua vida à criação e à justiça social.
Sua característica principal foi explorar ao máximo as possibilidades plásticas do concreto armado, misturando a sensualidade das curvas ao ideário modernista e racionalizador.
Suas principais obras se encontram em Brasília, cidade projetada por Lúcio Costa, seu mestre, com o qual trabalhou por muitos anos e com quem participou da epopéia da construção da nova capital. Tem também trabalhos espalhados por todos os continentes, como na Argélia (foto acima).
O Eixo Monumental de Brasília (abaixo à esquerda) reúne o maior conjunto de suas obras, no que deve ser o maior conjunto arquitetônico no mundo inteiro projetado por um só arquiteto. Desde a extremidade leste, onde se situam a Estação Ferroviária, o Setor Militar Urbano e o Governo do Distrito Federal até a ponta oeste, onde está a Praça dos Três Poderes, quase todas as construções são de sua autoria.
As excessões são o Centro de Convenções e o mastro gigante da bandeira, projetados pelo arquiteto Sergio Bernardes, a estação rodoviária e a Torre de TV, obras de Lúcio Costa.
Cresci em Brasília, para onde meu pai foi transferido em 1960, e brincava em meio aquelas obras que iam surgindo do barro vermelho. Muitas vezes, no início da cidade, víamos Niemeyer sozinho, dirigindo seu
Saab (um carro sueco) pelas ruas.
Tive o privilégio de estar com ele em duas ocasiões: a primeira quando trabalhava para o Governo do Distrito Federal e apresentei ao governador de Brasília, José Aparecido, o projeto para o Centro Cultural da Ceilândia, em 1986. Niemeyer estava presente (foto acima à direita) e aprovou minha proposta. A outra foi no ano seguinte, quando resolvi pedir demissão do GDF e temendo que depois da minha saída deformassem o projeto do Centro Cultural, fui pedir conselho a ele, que me atendeu muito gentilmente e disse: meu filho, eles mudam os meus projetos, não vão mudar o seu?
De fato, meu projeto foi todo deformado. Construído em parte, agora resolveram barateá-lo, sem a menor consideração pelo que havia sido aprovado.
Na nossa rápida conversa, falando sobre minha intenção de deixar aquele emprego e se referindo aos remanescentes da ditadura que infestavam o governo, ele me disse: Isso mesmo meu filho, vá fazer outra coisa, vá viver a vida. Isto aqui está cheio de filhos da puta!
Niemeyer não foi apenas um mestre das curvas, mas ensinou a gerações de arquitetos a beleza da vida e a importância da luta pela justiça social.
Ultimamente seus projetos eram cada vez mais escultóricos, e tinham importância por si mesmos, por serem de sua autoria, embora nem sempre tivessem maior valor funcional.
Globobagens
Gente, que nomes idiotas são esses que estão dando aos símbolos das copas?
Brazuca será o nome da bola da copa 2014, Cafusa a da Copa das Confederações e Fuleco do pobre tatú-bola, mascote da copa.
Quem é o responsável por isto? Pode ser que eu esteja delirando, mas tenho a impressão de que tamanhas idiotices só podem ter saído da fábrica de bobagens da rede Globo, mais especificamente do mais odiado de todos os locutores esportivos brasileiros: Galvão Bueno.
Brazuca é típico de gente do tempo da ditadura militar, como ele, que tinha a preocupação em ficar exaltando o Brasil com essas patriotadas, que só nos expõe ao ridículo aos olhos do mundo.
Cafusa é a síntese desse tipo de mentalidade, que no tempo dos militares vendeu o Brasil como a terra do Carnaval, Futebol e Samba, como se fôssemos incapazes de criar algo além disso.
No momento em que o Brasil começa a assumir um novo protagonismo, voltam essas demonstrações de futilidade e provincianismo.
Fuleco, nem se fala. Além de horroroso é um desrespeito a um mascote tão bonito e cujo nome já remete ao futebol: Tatú-bola tinha que ser o nome dele, mais nada.
E o sorteio da copa das confederações, com aquelas apresentações ridículas de sambistas, como se a cultura brasileira fosse só aquilo? Arlindo Cruz já é um horror, ainda por cima representando a cultura brasileira. E as músicas que falavam de futebol? Tirando a do Skank todas eram dos anos 70. Só faltou cantarem Pra Frente Brasil.
Será que vamos ficar prisioneiros desses clichês medíocres, justo na hora em que o mundo estará de olho na gente?
O trem vem aí
Parece que finalmente vai sair a licitação para o trem de alta velocidade (TAV) entre Rio, São Paulo e Campinas. O governo já anunciou que após a implantação deste trecho pretende estender a linha para Curitiba e Belo Horizonte.
Os governos da Argentina e do Chile também já anunciaram a construção de um desses entre Buenos Aires e Santiago do Chile. Quem sabe algum dia poderemos viajar de Buenos Aires a Caracas, de Salvador a La Paz em TAVs, seguindo a tendência mundial de substituir as viagens aéreas por trens deste tipo, que poluem muito menos e são confortáveis e rapidíssimos.
Atoleiro europeu
Críticos europeus dizem que o governo Dilma é incompetente por não ter conseguido fazer o Brasil crescer mais durante o ano de 2012. Alguns inclusive pedem a renúncia do Ministro Mantega e outros até mesmo que Dilma não se candidate a reeleição em 2014.
Baseado neste critério, todos os governos da União Européia deveriam pedir demissão, já que não conseguiram fazer o bloco crescer nada, ao aplicarem suas políticas de ajuste fiscal.
Conclusão: eles promovem a crise e a culpa é do Brasil.
Engraçadinhos, não? Quando a gente não faz o que eles querem se metem logo a ditar regras, mas eles mesmos não conseguem sair do atoleiro.
Futebol 2013
Depois de nove anos a Bahia contará com dois times na primeira divisão.
Com a permanência (sofrida) do Bahia na série A e a ascensão (também sofrida) do Vitória, poderemos ver dois Ba-Vi na nova arena da Fonte Nova em Salvador.
Esperamos que os dois times agora passem a se comportar realmente como grandes equipes, fazendo um planejamento realista e adequado para o ano, inclusive em relação à divulgação das suas marcas, com mais lojas vendendo seus produtos e não inventem de fazer contratações malucas, acima de suas possibilidades.
A decisão de investir nas categorias de base é boa, mas é preciso também ter jogadores experientes para orientar a moçada.
A Fonte Nova está ficando linda e deve estar pronta já em março. Até que enfim uma boa notícia para Salvador.
Por via das dúvidas já garanti meu ingresso para ver Brasil-Itália. Haja coração!
Poesia da Semana
Em homenagem ao ingresso da Bolívia no Mercosul, contribuindo para o avanço do sonho de concretizar a grande pátria latino-americana, deixo aqui para vocês um poema de Pablo Neruda, em homenagem à nossa América.
Amor America
Antes do chinó e do fraque
foram os rios, rios arteriais:
foram as cordilheiras em cuja vaga puída
o condor ou a neve pareciam imóveis;
foi a umidade e a mata, o trovão,
sem nome ainda, as pampas planetárias.
O homem terra foi, vasilha, pálpebra
do barro trêmulo, forma de argila,
foi cântaro caraíba, pedra chibcha,
taça imperial ou sílica araucana.
Terno e sangrento foi, porém no punho
de sua arma de cristal umedecido
as iniciais da terra estavam escritas.
Ninguém pôde
recordá-las depois: o vento
as esqueceu, o idioma da água
foi enterrado, as chaves se perderam
ou se inundaram de silêncio ou sangue.
Não se perdeu a vida, irmãos pastorais.
Mas como uma rosa selvagem
caiu uma gota vermelha na floresta
e apagou-se uma lâmpada da terra.
Estou aqui para contar a história.
Da paz do búfalo
até as fustigadas areias
da terra final, nas espumas
acumuladas de luz antártica,
e pelas Lapas despenhadas
da sombria paz venezuelana,
te busquei, pai meu,
jovem guerreiro de treva e cobre,
ou tu, planta nupcial, cabeleira indomável,
mãe jacaré, pomba metálica.
Eu, incaico do lodo,
toquei a pedra e disse:
Quem me espera? E apertei a mão
sobre um punhado de cristal vazio.
Porém andei entre flores zapotecas
e doce era a luz como um veado
e era a sombra como uma pálpebra verde.
Terra minha sem nome, sem América,
estame equinocial, lança de púrpura,
teu aroma me subiu pelas raízes
até a taça que bebia, até a mais delgada
palavra não nascida de minha boca.
(Pablo Neruda, Canto geral)