Onze anos depois
Prezados amigos leitores
Recebi um longo e-mail, de pessoa da Prefeitura, a respeito do último artigo (Capital da Cultura?) dizendo que eu só sei criticar, que largo tudo pela metade (referência à minha demissão do IPHAN) e que não acredito em nada, principalmente em mim mesmo.
Fiquei pensando muito sobre tudo isso porque, como dizia D. Helder Câmara, os inimigos é que nos mostram nossos defeitos, e peço desculpas aos leitores se realmente me tornei muito negativo.
Mas pensando nisso me lembrei de episódio ocorrido em 1999, quando comprei a terra em Rio de Contas e vim passar o feriado de 15 de novembro na cidade, com meus filhos e alguns amigos.
Passeando pelo centro vi que estavam removendo o calçamento da praça e, estranhando por se tratar de cidade tombada, fui perguntar numa loja de lembranças para turistas do porque daquela agressão ao patrimônio, já que a cidade era tombada no seu conjunto, o que incluía as ruas.
A moça que me atendeu na loja me respondeu agressivamente e na hora eu não entendi porque. Disse que tinha que ser assim mesmo, que as árvores da praça tinham que ser retiradas para que os prédios históricos fossem vistos e que o projeto havia sido aprovado pelo IPHAN.
Depois fiquei sabendo que ela era tambhém funcionária do IPHAN, na cidade.
Achei tudo aquilo muito estranho e fotografei as obras. Chegando em Conquista, onde morava, entreguei algumas fotos para a sucursal de A Tarde que as publicou na primeira página,.
A partir daí comecei a receber telefonemas de ameaças no meu escritório em Conquista, que mais tarde vim a saber, partiam de pessoas daqui da cidade, ligadas ao então prefeito, um homem autoritário que não admitia críticas.
A mesma pessoa que me mandou o e-mail hoje, naquela ocasião fazia oposição ao Prefeito e me incentivou nas críticas, me contando depois que a mesma moça havia conseguido, junto à revista 4 rodas, que fosse atribuído um prêmio de preservação do patrimônio à Rio de Contas como forma de melhorar a imagem da administração, pelo estrago irreparável feito à praça, assim como pela reportagem n'A Tarde.
Em 2008 entrei no IPHAN e comecei a montar uma política de educação patrimonial que modificaria a relação do Instituto com a população e logo recomeçam os telefonemas com ameaças; vou te matar..., você vai morrer..., cuidado com a sua casa..., cuidado com a sua família..., etc.
Como não me amedrontei, montaram uma intriga infernal em Salvador, comigo e Claudete Eloy, até que conseguiram excluí-la e me ataram as mãos de modo que eu não poderia fazer mais nada.
Pedi demissão e depois, muitos meses depois, comecei a criticar a nova administração de Rio de Contas pelo abandono da cultura, liderando o movimento que fundou a ARCA, Associação Riocontense de Cultutra e Arte.
Agora, onze anos depois, a mesma moça que estava e ainda está no IPHAN, consegue novamente um título para Rio de Contas, desta vez o de Capital Baiana da Cultura, como forma de melhorar a imagem da administração, que ela agora apóia.
Ou seja, a história se repete, quase igual, com os mesmo atores, a não ser um: a pessoa que me apoiava na época, agora está na Prefeitura e me mandou o e-mail dizendo que agora eu sou um chato, um perdedor, um reclamista.
Talvez eu esteja mesmo ficando velho e intolerante. Acho que de tanto ver se repetirem os mesmo erros, as mesmas desonestidades, a mesma manipulação, para benefício de poucos, a gente vai perdendo a paciência, vai ficando descrente de tudo.
Mas acho que esses anos em Rio de Contas me ensinaram muita coisa.
Saindo da vida corrida de Brasília pude olhar para dentro de mim e encontrar algumas verdades.
Descobri, por exemplo, que não gosto de trabalhos burocráticos e não acredito em governos. Que não acredito no gerencialismo que diz que tudo é uma questão de gestão, mas sim nos princípios das pessoas.
É isso que faz a diferença: pessoas boas fazem coisas boas, não importa se sabem gerir ou não. Pessoas egoístas trabalham para si e para poucos, montam esquemas, fundam grupos, e fazem bonitos discursos gerencialistas.
Uns são mais hábeis, sabem ser simpáticos, outros menos, mas com o tempo a gente vai aprendendo a reconhecê-los, perdendo a paciência com eles e tratando de se afastar deles.
De nada adianta permanecer dentro de órgãos públicos sem poder fazer alguma coisa digna, só para benefício próprio, em busca de prestígio e poder.
Melhor procurar seu caminho, redescobrir a fé em si mesmo e seguir com as pessoas que você ama e acredita.
Acho que isso eu consegui: não só manter, mas renovar a fé em mim mesmo, nas coisas que acredito e seguir o meu caminho, sem depender de Prefeituras e projetos políticos.
Por isso, amigos leitores, só peço que perdoem as minhas falhas e que compreendam as minhas verdades.
Abraço a todos
Ricardo Stumpf